Evidências crescentes indicam que a maior ingestão de alimentos ultraprocessados está associada à maior incidência de doenças não transmissíveis e consequente risco global de mortalidade mais elevado. No entanto, até o momento, a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de mortalidade nunca foi investigada.
Com o objetivo de avaliar esta associação, foi realizado um estudo de coorte prospectivo observacional, publicado pelo periódico JAMA Internal Medicine. Esta pesquisa selecionou adultos com 45 anos ou mais, do estudo francês “French NutriNet-Santé Study”, um estudo de coorte em andamento que foi lançado em 11 de maio de 2009 e realizou um acompanhamento até 15 de dezembro de 2017 (uma mediana de 7,1 anos).
Os participantes foram selecionados se completaram pelo menos um conjunto de 3 registros dietéticos de 24 horas na web durante os primeiros 2 anos de acompanhamento. Dados autorrelatados foram coletados no início do estudo, incluindo dados sociodemográficos, de estilo de vida, atividade física, peso corporal, altura e antropometria.
O grupo de alimentos ultraprocessados (do sistema de classificação de alimentos NOVA) é caracterizado por formulações prontas para consumo ou semiprontas que só precisam de aquecimento para serem consumidas, feitas principalmente a partir de ingredientes geralmente combinados com aditivos. A proporção (em peso) de alimentos ultraprocessados na dieta foi calculada para cada participante.
A associação entre proporção de alimentos ultraprocessados e mortalidade geral foi o principal desfecho. As ingestões dietéticas médias de todos os registros alimentares de 24 horas disponíveis durante os primeiros 2 anos de acompanhamento foram calculadas e consideradas como a ingestão usual de comida e bebida básica. A mortalidade foi avaliada usando o CépiDC, o registro nacional francês de causas específicas de mortalidade. Taxas de risco (HRs) e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) foram determinados para mortalidade por todas as causas, usando modelos de regressão de riscos proporcionais multivariados de Cox, com a idade como a métrica de tempo subjacente.
Um total de 44.551 participantes foram incluídos, dos quais 32.549 (73,1%) eram mulheres, com uma idade média (DP) no início do estudo de 56,7 (7,5) anos. Os alimentos ultraprocessados representaram uma proporção média (DP) de 14,4% (7,6%) do peso do total de alimentos consumidos, correspondendo a uma proporção média (DP) de 29,1% (10,9%) do consumo total de energia.
O consumo de alimentos ultraprocessados foi associado à idade mais jovem, menor renda , nível educacional mais baixo, vivendo sozinho, maior índice de massa corporal, e menor nível de atividade física.
Um total de 602 mortes (1,4%) ocorreu durante o acompanhamento. Após o ajuste para uma série de fatores de confusão, um aumento na proporção de alimentos ultraprocessados foi associado a um maior risco de mortalidade por todas as causas.
Um aumento no consumo de alimentos ultraprocessados parece estar associado a um risco de mortalidade geral maior entre essa população adulta. Mais estudos prospectivos são necessários para confirmar esses achados e desvendar os vários mecanismos pelos quais os alimentos ultraprocessados podem afetar a saúde.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Referência: JAMA Internal Medicine, publicação online, em 11 de fevereiro de 2019.
https://www.news.med.br/p/medicaljournal/1333868aumento+de+10+no+consumo+de+alimentos+ultraprocessados+foi+associado+a+um+risco+14+maior+de+mortalidade+por+todas+as+causas+publicado+pelo+jama.htm