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Ir de bicicleta ao trabalho pode reduzir a mortalidade relacionada com a obesidade

Glasgow — Os obesos que ativamente vão e voltam do trabalho, particularmente aqueles que o fazem de bicicleta, podem conseguir reduzir seu risco de mortalidade por todas as causas e de eventos cardiovasculares em comparação com os que vão para o trabalho de carro, dizem pesquisadores britânicos em trabalhos apresentados na 26th European Conference on Obesity .

Edward Toke-Bjolgerud, aluno do quinto ano de medicina na Glasgow University e colegas analisaram dados de mais de 160.000 participantes no UK Biobank que iam para o trabalho de carro, a pé ou de bicicleta.

Em comparação às pessoas de peso normal que iam para o trabalho de bicicleta ou andando, os obesos que iam trabalhar de carro tiveram risco 32% maior de morte por qualquer causa e aumento de 59% do risco de eventos cardiovasculares.

O aumento do risco de mortalidade por todas as causas não existia mais quando foram avaliados os trabalhadores obesos que iam para o trabalho andando ou de bicicleta, embora ainda tivesse um aumento de 82% do risco de eventos cardiovasculares.

Quando a equipe aprofundou a análise, descobriu que o risco de eventos cardiovasculares foi muito menor entre as pessoas obesas que iam de bicicleta para o trabalho do que entre as que iam de carro, mas foi maior entre as que caminhavam, sugerindo que a intensidade do exercício pode ter um papel importante no grau de benefício.

Efeito protetor?

Edward sublinhou que, devido à natureza observacional do estudo, não é possível afirmar se o impacto do tipo de deslocamento nos desfechos das pessoas obesas é ou não causal.
No entanto, o estudante disse que os resultados sugerem que “o deslocamento ativo poderia desempenhar um papel importante na atenuação da relação entre a obesidade e a mortalidade por todas as causas, mas que a conquista da melhora dos desfechos cardiovasculares pode exigir um modo mais vigoroso de deslocamento ativo, como andar de bicicleta”.

Edward seguiu, afirmando que a questão que o estudo levanta é: “O que está causando esse efeito protetor”?
“É a prática regular diária de exercícios de intensidade moderada a vigorosa ou, na verdade, é o deslocamento do comportamento sedentário, trocando o carro pelo exercício, ou uma combinação dos dois?”, indagou.

Edward acrescentou que, se o relacionamento for demonstrado como sendo de natureza causal, “há alguma coisa que impeça maiores benefícios”? “Especificamente, estamos falando sobre a qualidade do ar e da poluição, mas também sobre segurança no trânsito. E estas são coisas que irão preocupar as pessoas que talvez optem pelo deslocamento ativo”.
Edward disse: “Talvez se tudo isso for abordado, possamos ver ainda mais benefícios”.

“Possibilidades intrigantes”

O codiretor da sessão, Dr. Simon Williams, Ph.D., que é diretor da Association for the Study of Obesity, disse “trata-se de um estudo muito interessante” que “levanta algumas possibilidades intrigantes”.

O Dr. Simon acrescentou: “Como o apresentador sugeriu, há um longo caminho até poder ser conclusivo, devido a questões metodológicas do estudo, mas me parece ser muito, muito interessante”.

No entanto, mais pessoas optando pelo deslocamento ativo exigiria mudanças na sociedade, a fim de criar as circunstâncias corretas, e o Dr. Simon disse que é necessário fazer mais pesquisas para garantir que existam “boas evidências” embasando essas mudanças.

O Dr. Simon ainda observou: “Podemos ver exemplos de outros países, nos quais o ambiente foi modificado para acomodar mais atividade física, e algumas ilhas de bons exemplos aqui também”.

Diretrizes para a prática de exercícios

Edward começou indicando que as diretrizes de atividade física do Chief Medical Officer do Reino Unido recomendam 75 minutos de atividade física de intensidade vigorosa ou 150 minutos de exercícios de intensidade moderada por semana, ou algum tipo de combinação dos dois.

No entanto, os números da British Heart Foundation publicados em 2017 sugerem que 39% dos adultos no Reino Unido, representando cerca de 20 milhões de pessoas, não seguem essas recomendações.

Entre as razões citadas pelas pessoas para não fazer mais exercícios uma é a falta de tempo, devido a outros compromissos.

Edward sugeriu que uma das causas da falta de tempo poderia ser justamente o tempo gasto nos deslocamentos de ida e volta do trabalho.

O estudante disse que a média diária de tempo gasto para chegar ao trabalho na Grã-Bretanha é estimada em 1:38 h por dia, ou 8,1 horas por semana, que poderiam ser gastas tanto de modo sedentário quanto de maneira ativa.

Dados do UK Biobank

Pesquisas anteriores utilizando dados do UK Biobank sugeriram que ir e voltar do trabalho de modo ativo, principalmente andando de bicicleta, corta pela metade o risco de mortalidade por todas as causas e de doença cardíaca em comparação com andar de carro.

Aprofundando a pesquisa, Edward e colegas partiram para determinar se o modo de ida e volta do trabalho modera a relação entre a obesidade e a mortalidade por todas as causas e os desfechos cardiovasculares.

Mais uma vez, tendo como fonte o UK Biobank, os autores obtiveram informações sobre 163.149 pessoas com inicialmente entre 37 e 73 anos, assalariadas ou autônomas, mas que não trabalhavam em casa.

Os autores excluíram as pessoas com alguma doença que pudesse limitar a atividade física e aqueles com doenças que modificariam o risco de mortalidade ou risco de desfechos cardiovasculares.

Os pesquisadores dividiram os participantes, dos quais 50,8% eram mulheres, em categorias de peso normal, sobrepeso e obesidade de acordo com as definições da Organização Mundial da Saúde.

Os pesquisadores então definiram o modo de deslocamento para o trabalho como somente de carro, somente de bicicleta, somente andando, ou uma mistura de andar de bicicleta e caminhar.

Relacionando os registros dos bancos de dados de saúde, os autores examinaram a incidência de morte por qualquer causa e os eventos cardiovasculares combinado fatais ou não.

Durante um acompanhamento médio de 5,0 anos, 2.425 pessoas morreram e 7.973 tiveram diagnóstico de doença cardiovascular.

Comparadas às pessoas de peso normal que informaram andar de bicicleta ou a pé, ou ambos, as que tinham peso normal mas iam trabalhar de carro tiveram um aumento não significativo do risco de morte por todas as causas e de eventos cardiovasculares.

Como previsto, os participantes obesos que só iam trabalhar de carro tiveram aumento significativo do risco de morte por todas as causas e eventos cardiovasculares em comparação com os participantes com peso normal ativos, HR = 1,32 e 1,59, respectivamente.

Por outro lado, as pessoas obesas que iam e voltavam do trabalho de modo ativo tiveram um aumento significativo do risco de doença cardiovascular em comparação com os participantes com peso normal e que iam trabalhar de modo ativo, HR = 1,82, mas não de morte por todas as causas. A mortalidade cardiovascular também foi significativamente maior entre os pacientes obesos que usavam o carro para ir para o trabalho em comparação com os participantes com peso normal e que iam para o trabalho de modo ativo, HR = 2,06, mas houve apenas uma tendência de aumento do risco entre os participantes obesos que iam para o trabalho de modo ativo.

Obesos que se deslocam de modo ativo para o trabalho

Para explorar a aparente desconexão entre todas as causas de morte e a incidência de eventos cardiovasculares nos pacientes obesos que se deslocam ativamente para o trabalho, os pesquisadores estudaram a intensidade do exercício físico.

Os autores descobriram que os ciclistas obesos tinham 44% menos risco de eventos cardiovasculares em comparação com os obesos que usavam carros para ir ao trabalho, mas os obesos caminhantes tiveram um risco 19% maior do que os obesos que usavam carros.

A intensidade do exercício também teve algum impacto quando a equipe definiu a obesidade de acordo com o percentual de gordura corporal, em vez do tradicional índice de massa corporal (IMC).
Isto mostrou que, quando comparados aos ciclistas com peso normal, os ciclistas obesos tiveram uma redução do risco de eventos cardiovasculares com HR = 0,54, enquanto os obesos que usavam o carro nos seus deslocamentos para o trabalho tiveram aumento do risco aumentado com HR = 2,07.

No entanto, em comparação com os participantes com peso normal que caminhavam, os caminhantes obesos tiveram aumentado do risco de eventos cardiovasculares com HR = 1,52, que foi apenas marginalmente menor do que o observado entre os que se deslocam de carro (HR = 1,55).

Edward indicou uma série de limitações do estudo, cuja natureza impede a comprovação de causalidade.

Por exemplo, existe possibilidade de confusão pelo fato de os trabalhadores que se deslocam de bicicleta e caminhando praticarem outras formas de exercícios físicos, além do ciclismo e da caminhada para o trabalho.

Além disso, o modo de deslocamento foi informado pelos próprios participantes, e pode ter se modificado ao longo do estudo.

O autor disse que, entretanto, o estudo se baseou em uma grande coorte e que ele e seus colegas conseguiram ajustar por uma ampla gama de fatores de confusão, como, em certa medida, a poluição do ar.

Não foram declarados conflitos de interesses ou financiamentos.

26th European Conference on Obesity: Abstract IS2.04 .
Apresentado em 28 de abril de 2019.

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referência: https://portugues.medscape.com/verartigo/6503547#vp_3