A cirurgia bariátrica, cada vez mais popular com a crescente prevalência da obesidade, é reconhecida não só como um tratamento eficaz para alcançar a perda substancial de peso, mas também na indução de controle glicêmico significativo e rápido, resultando em remissão de diabetes tipo 2 em aproximadamente 80% dos casos em dois anos.
Recentemente, um estudo observacional retrospectivo conduzido no Reino Unido foi realizado para avaliar alterações na retinopatia diabética em pacientes com diabetes tipo 2 após a cirurgia bariátrica e relatar os fatores de risco que podem estar associados.
Para o estudo, foram incluídos todos os pacientes com diabetes tipo 2 que foram submetidos à cirurgia bariátrica entre 2009-2015, com, pelo menos, um resultado de rastreamento de retinopatia diabética disponível no pré-operatório e no pós-operatório.
Um total de 102 pacientes foram elegíveis para a análise e estes foram acompanhados por 4 anos. A média de idade da coorte foi de 55 anos e a maioria era do sexo feminino (67%). A média de duração do diabetes, definida como o tempo do diagnóstico até o procedimento bariátrico, foi de 6 anos.
Antes da cirurgia, 68% dos pacientes não apresentavam retinopatia diabética, 30% tinham histórico de retinopatia, 1% tinha retinopatia pré-proliferativa e 1% retinopatia proliferativa. Na primeira visita pós-operatória, 19% dos pacientes desenvolveram retinopatia diabética em comparação com 70% que mantiveram estável e 11% que apresentaram melhora. Estes resultados permaneceram semelhantes para cada visita pós-operatória ao longo do tempo.
Os preditores significativos de piora no pós-operatório observados na análise foram grupo de pacientes com idade mais jovem, sexo masculino, HbA1c pré-operatória elevada e presença de retinopatia pré-operatória.
Com base nos resultados, concluiu-se que a cirurgia bariátrica não garante melhora ou prevenção da retinopatia diabética. Os pacientes jovens do sexo masculino com retinopatia diabética pré-existente apresentam maior risco de progressão.
Ressalta-se que todos os pacientes diabéticos devem realizar o exame de rastreamento para retinopatia diabética regularmente após a cirurgia bariátrica para permitir a detecção precoce de mudanças potencialmente ameaçadoras da visão, particularmente entre aqueles com fatores de risco identificáveis.
É importante pois ressaltar que a cirurgia bariátrica é um excelente tratamento para a diabetes mellitus tipo 2; entretanto, na diabetes já está avançada, com sequelas vasculares tal como a retinopatia diabética, a cirurgia tem pouco efeito sobre a evolução, controle ou cura das sequelas já estabelecidas. Realizar a cirurgia bariátrica nos estágios iniciais da diabetes mellitus tipo 2, pode promover a cura/controle da doença, prevenindo o aparecimento de sequelas como a retinopatia.
Referências: Chen Y, Laybourne JP, Sandinha MT, de Alwis NM, Avery P, Steel DH. Does bariatric surgery prevent progression of diabetic retinopathy? Eye (Lond). 2017 Aug;31(8):1131-1139. doi: 10.1038/eye.2017.119. Epub 2017 Jul 21.