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Cirurgia bariátrica reduz mortalidade por insuficiência cardíaca

Nova pesquisa mostra que a cirurgia bariátrica pode reduzir drasticamente o risco de morte por insuficiência cardíaca.

Estes resultados, baseados em uma grande amostra de pacientes internados por insuficiência cardíaca, parte extraída de uma base de dados dos Estados Unidos, foram apresentados no dia 13 de novembro na Obesity Week 2018, em uma das sessões Top Paper, pelo Dr. Essa M. Aleassa, fellow na Cleveland Clinic, em Ohio (EUA).

“O histórico de cirurgia bariátrica tem um efeito protetor significativo na sobrevida após uma exacerbação aguda da insuficiência cardíaca”, disse o Dr. Essa durante a apresentação.

A mortalidade hospitalar durante internação relacionada à insuficiência cardíaca caiu para quase a metade entre pacientes com cirurgia bariátrica prévia, e a média de permanência também foi reduzida.

“Não podemos dizer com 100% de certeza, mas isso sugere que pacientes com histórico de cirurgia bariátrica apresentem insuficiência cardíaca menos grave, por isso passam menos tempo internados”, disse o Dr. Essa numa entrevista.

Além disso, o efeito protetor tanto na sobrevida por insuficiência cardíaca, como na média de permanência, foi visto mesmo quando os indivíduos com cirurgia bariátrica prévia foram pareados com pacientes não cirúrgicos com o mesmo índice de massa corporal (IMC), indicando que o efeito não é simplesmente devido à menor massa corporal.

“Não conhecemos o mecanismo, mas ao menos temos uma pista para seguir”, disse o Dr. Essa.
De fato, o moderador da sessão Dr. Shanu Kothari, diretor de cirurgia bariátrica no Gundersen Health System, em La Crosse, Wisconsin, disse ao Medscape: “eu acho que estamos apenas começando a entender o que pode ser um benefício metabólico único da cirurgia bariátrica para o coração, mesmo antes do paciente perder peso. Sabemos que parece existir um efeito incretina no diabetes, talvez estejamos vendo o mesmo com o coração”.

Mortalidade por IC e média de permanência menores após bariátrica

O Dr. Essa e colaboradores usaram informações da base de dados National Inpatient Sample (2007-2014), que contém registros de 8 milhões de internações hospitalares, considerada como representativa da população dos Estados Unidos. No total, foram 2.810 pacientes internados por insuficiência cardíaca (CID-9 MC código 428.X) e que também tinham o código CID-9 CM V45.86, indicando cirurgia bariátrica prévia.

Cada um dos pacientes que realizou cirurgia bariátrica prévia foi pareado por pontuações de propensão com outros cinco pacientes em dois grupos de controle não cirúrgicos, o primeiro com IMC ≥ 35 kg/m2 e o segundo, pareado por IMC no momento da insuficiência cardíaca. O pareamento por propensão incluiu fatores demográficos como idade, sexo, raça e renda familiar; além de características hospitalares como região, hospital de ensino e comorbidades, como doença pulmonar crônica, insuficiência renal, câncer metastático e índice de comorbidade Elixhauser.

A amostra total do estudo foi composta de 33.720 pacientes (ponderados). A mortalidade por todas as causas durante a internação, considerada como o desfecho primário, foi de 0,96% no grupo com cirurgia bariátrica prévia, versus 1,86% em ambos os grupos de controle.

A média de permanência, desfecho secundário, foi significantemente menor para pacientes com cirurgia bariátrica prévia de 4,79 dias vs. 5,75 dias para o primeiro grupo de controle e 5,38 dias para o segundo grupo.

O Dr. Essa reconheceu que o estudo tem várias limitações, como o desenho retrospectivo, e que não haviam dados sobre o tipo de cirurgia bariátrica, ou o tempo entre a cirurgia e o diagnóstico de insuficiência cardíaca.

Um participante da sessão destacou que devido ao desenho limitado a pacientes que já tinham insuficiência cardíaca e cirurgia bariátrica, os benefícios de um efeito preventivo foram provavelmente subestimados. Estes benefícios foram observados em estudos anteriores.

Em resposta à uma pergunta da plateia sobre a indicação da cirurgia bariátrica para pessoas que venham a ter insuficiência cardíaca, baseada nos resultados deste estudo, o Dr. Essa disse que esta já é uma das estratégias adotadas para alguns pacientes na Cleveland Clinic.

O Dr. Shanu comentou: “nós sabemos que pacientes com insuficiência cardíaca têm maior risco perioperatório”. Eu acho que estes dados mostram que apesar de estarmos aumentando o risco perioperatório, pode existir um potencial benefício futuro para os pacientes, muito além das métricas tradicionais que utilizamos para redução de comorbidades”.

No geral, disse o Dr. Shanu, “quando se fala sobre redução dos gastos com saúde, sobre a pressão no sistema de saúde, quando se começa a pensar sobre isso mais globalmente, é aí que eu considero estes dados intrigantes. E acho que precisamos fazer mais estudos sobre esse assunto “.

O Dr. Essa M. Aleassa informou não ter conflitos de interesses relevantes. O Dr. Shanu Kohtari é consultor da Ethicon e Lexington Medical e palestrante da Gore.

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referência: https://portugues.medscape.com/verartigo/6502990#vp_2
Obesity Week 2018. 13 de novembro de 2018; Nashville, TN. Abstract A-105.