Em uma coorte de grávidas sem diabetes ou hipertensão, as que eram obesas tinham risco aumentado de ter um recém-nascido com complicações, relatam os pesquisadores.
Especificamente, mulheres obesas tinham risco aumentado de ter um novo bebê com encefalopatia hipóxico-isquêmica ou suspeita de sepse, ou que precisassem ser submetidos à hipotermia.
O estudo do Dr. Brock E. Polnaszek, da Washington University, St. Louis, Missouri (EUA), e colaboradores, foi publicado on-line em Obstetrics & Gynecology.
Trabalhos anteriores sugeriram que “a obesidade pode ser tão importante, se não mais importante, do que a hipertensão e o diabetes como um fator de risco potencialmente modificável para os médicos abordarem para melhorar os resultados neonatais”, escrevem os pesquisadores.
O presente estudo sugere que, em recém-nascidos de gestantes obesas, os médicos “devem ficar atentos” à suspeita de sepse ou encefalopatia hipóxico-isquêmica (lesão cerebral por falta de oxigênio), e devem considerar o uso de hipotermia para resfriar a cabeça ou o corpo do neonato nos casos de encefalopatia hipóxico-isquêmica, disse em e-mail ao Medscape o Dr. Polnaszek.
A obesidade materna “não está incluída atualmente quando identificamos uma criança como de alto risco para sepse”, continuou ele, sugerindo que talvez devesse ser.
“Nosso estudo sugere que a obesidade materna isoladamente pode ser um fator importante para os médicos considerarem ao interpretar os dados da American Academy of Pediatrics” de suspeita de sepse, escrevem ele e colaboradores.
Ao aconselhar grávidas obesas, disse o Dr. Polnaszek, os médicos devem informá-las sobre o risco aumentado de complicações.
O American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda que as obesas ganhem apenas 11 a 20 libras (5 a 9 kg) durante a gravidez (em comparação com 25 a 35 libras, ou seja 11,3 a 15,9 kg, para mulheres com peso normal), observou ele. Da mesma forma, um estudo recente sugeriu que mulheres muito obesas deveriam ser aconselhadas a perder peso durante a gravidez.
A obesidade na gravidez é um fator de risco independente?
Obesas grávidas também podem ter diabetes e hipertensão, mas a maioria (65% a 85%) não tem essas comorbidades, explicam os pesquisadores.
A obesidade por si só pode levar a resultados neonatais ruins, acrescentam, porque é “um estado fisiopatológico pró-inflamatório e é possível que essa condição possa alterar o ambiente intrauterino do feto em desenvolvimento, levando a resultados neonatais adversos”.
Para estudar essa associação, Dr. Polnaszek e colaboradores realizaram uma análise secundária dos dados de uma coorte de 8580 grávidas inscritas em um estudo prospectivo no centro onde ele atua, de 2010 a 2014.
Depois de excluir 2122 mulheres que tinham hipertensão (incluindo hipertensão gestacional, eclâmpsia e pré-eclâmpsia), diabetes (incluindo diabetes gestacional), ou ambos, ou dados ausentes, restaram 6458 mulheres para a análise atual. Dessas, 3311 eram obesas e 3147 não.
As obesas eram mais velhas, e tinham maior probabilidade de serem afro-americanas ou de terem um parto cesáreo anterior.
Na gravidez sob investigação, as mulheres obesas tinham maior probabilidade de terem parto cesáreo (19% em relação a 12%), parto induzido, ou ter um parto prolongado em comparação com aquelas que não eram obesas.
Os dois outros desfechos principais do estudo foram:
• A morbidade neonatal (um composto de morte, ventilação mecânica, desconforto respiratório, aspiração de mecônio, suspeita de sepse, sepse confirmada, encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipotermia terapêutica e convulsões);
• Morbidade neurológica neonatal (um composto de encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipotermia terapêutica e convulsões).
Após ajustar para raça, recém-nascidos de mulheres obesas em relação a não obesas tiveram um risco significativamente maior de morbidade neonatal e morbidade neurológica neonatal.
Uma avaliação mais detalhada revelou que os recém-nascidos de mulheres obesas tinham maior probabilidade de ter encefalopatia hipóxico-isquêmica e de receber tratamento de hipotermia .
Embora também tenham tido maior probabilidade de ter sepse suspeita, eles foram igualmente propensos a terem sepse confirmada. Três recém-nascidos morreram (dois em um grupo e um no outro, o que não foi significativamente diferente).
Necessidade de reduzir a morbidade neonatal em grávidas obesas
A encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal é causada principalmente por hipoxemia sistêmica e/ou redução do fluxo sanguíneo cerebral, explicou Dr. Polnaszek.
Em recém-nascidos a termo com encefalopatia hipóxico-isquêmica moderada a grave, “hipotermia induzida leve melhora significativamente a sobrevida e a incapacidade, e os protocolos de hipotermia atuais recomendam o início do tratamento nas primeiras seis horas de vida”.
“é um diagnóstico crítico a ser feito, e que não pode ser perdido, pois muitas vezes tem bons resultados se tratado apropriadamente”, enquanto que “não tratado pode levar à morte neonatal”
A sepse em recém-nascidos, observou Dr. Polnaszek, “é um diagnóstico crítico a ser feito, e que não pode ser perdido, pois muitas vezes tem bons resultados se tratado apropriadamente”, enquanto que “não tratado pode levar à morte neonatal”.
“Estudos futuros são necessários”, concluem os autores, “para corroborar e identificar estratégias para reduzir a morbidade neonatal com o aumento do número de mulheres com obesidade”.
O estudo foi financiado por Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development e Robert Wood Johnson Foundation. Os autores não declararam conflitos de interesses relevantes.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Referências: Obstet Gynecol. Publicado on-line em 17 de agosto de 2018.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6502806#vp_2