Dra. Carolina Gonçalves - Saúde Digestiva e Cirurgia

  (41) 3029-6868   Padre Anchieta, 2050 – Ed. Helbor Offices – cj 1512

HomeBlogSem categoriaObesidade materna isoladamente pode aumentar riscos neonatais

Obesidade materna isoladamente pode aumentar riscos neonatais

Em uma coorte de grávidas sem diabetes ou hipertensão, as que eram obesas tinham risco aumentado de ter um recém-nascido com complicações, relatam os pesquisadores.

Especificamente, mulheres obesas tinham risco aumentado de ter um novo bebê com encefalopatia hipóxico-isquêmica ou suspeita de sepse, ou que precisassem ser submetidos à hipotermia.

O estudo do Dr. Brock E. Polnaszek, da Washington University, St. Louis, Missouri (EUA), e colaboradores, foi publicado on-line em Obstetrics & Gynecology.

Trabalhos anteriores sugeriram que “a obesidade pode ser tão importante, se não mais importante, do que a hipertensão e o diabetes como um fator de risco potencialmente modificável para os médicos abordarem para melhorar os resultados neonatais”, escrevem os pesquisadores.

O presente estudo sugere que, em recém-nascidos de gestantes obesas, os médicos “devem ficar atentos” à suspeita de sepse ou encefalopatia hipóxico-isquêmica (lesão cerebral por falta de oxigênio), e devem considerar o uso de hipotermia para resfriar a cabeça ou o corpo do neonato nos casos de encefalopatia hipóxico-isquêmica, disse em e-mail ao Medscape o Dr. Polnaszek.

A obesidade materna “não está incluída atualmente quando identificamos uma criança como de alto risco para sepse”, continuou ele, sugerindo que talvez devesse ser.

“Nosso estudo sugere que a obesidade materna isoladamente pode ser um fator importante para os médicos considerarem ao interpretar os dados da American Academy of Pediatrics” de suspeita de sepse, escrevem ele e colaboradores.

Ao aconselhar grávidas obesas, disse o Dr. Polnaszek, os médicos devem informá-las sobre o risco aumentado de complicações.

O American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda que as obesas ganhem apenas 11 a 20 libras (5 a 9 kg) durante a gravidez (em comparação com 25 a 35 libras, ou seja 11,3 a 15,9 kg, para mulheres com peso normal), observou ele. Da mesma forma, um estudo recente sugeriu que mulheres muito obesas deveriam ser aconselhadas a perder peso durante a gravidez.

A obesidade na gravidez é um fator de risco independente?

Obesas grávidas também podem ter diabetes e hipertensão, mas a maioria (65% a 85%) não tem essas comorbidades, explicam os pesquisadores.

A obesidade por si só pode levar a resultados neonatais ruins, acrescentam, porque é “um estado fisiopatológico pró-inflamatório e é possível que essa condição possa alterar o ambiente intrauterino do feto em desenvolvimento, levando a resultados neonatais adversos”.

Para estudar essa associação, Dr. Polnaszek e colaboradores realizaram uma análise secundária dos dados de uma coorte de 8580 grávidas inscritas em um estudo prospectivo no centro onde ele atua, de 2010 a 2014.

Depois de excluir 2122 mulheres que tinham hipertensão (incluindo hipertensão gestacional, eclâmpsia e pré-eclâmpsia), diabetes (incluindo diabetes gestacional), ou ambos, ou dados ausentes, restaram 6458 mulheres para a análise atual. Dessas, 3311 eram obesas e 3147 não.

As obesas eram mais velhas, e tinham maior probabilidade de serem afro-americanas ou de terem um parto cesáreo anterior.

Na gravidez sob investigação, as mulheres obesas tinham maior probabilidade de terem parto cesáreo (19% em relação a 12%), parto induzido, ou ter um parto prolongado em comparação com aquelas que não eram obesas.

Os dois outros desfechos principais do estudo foram:

• A morbidade neonatal (um composto de morte, ventilação mecânica, desconforto respiratório, aspiração de mecônio, suspeita de sepse, sepse confirmada, encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipotermia terapêutica e convulsões);
• Morbidade neurológica neonatal (um composto de encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipotermia terapêutica e convulsões).

Após ajustar para raça, recém-nascidos de mulheres obesas em relação a não obesas tiveram um risco significativamente maior de morbidade neonatal e morbidade neurológica neonatal.

Uma avaliação mais detalhada revelou que os recém-nascidos de mulheres obesas tinham maior probabilidade de ter encefalopatia hipóxico-isquêmica e de receber tratamento de hipotermia .

Embora também tenham tido maior probabilidade de ter sepse suspeita, eles foram igualmente propensos a terem sepse confirmada. Três recém-nascidos morreram (dois em um grupo e um no outro, o que não foi significativamente diferente).

Necessidade de reduzir a morbidade neonatal em grávidas obesas
A encefalopatia hipóxico-isquêmica neonatal é causada principalmente por hipoxemia sistêmica e/ou redução do fluxo sanguíneo cerebral, explicou Dr. Polnaszek.

Em recém-nascidos a termo com encefalopatia hipóxico-isquêmica moderada a grave, “hipotermia induzida leve melhora significativamente a sobrevida e a incapacidade, e os protocolos de hipotermia atuais recomendam o início do tratamento nas primeiras seis horas de vida”.

“é um diagnóstico crítico a ser feito, e que não pode ser perdido, pois muitas vezes tem bons resultados se tratado apropriadamente”, enquanto que “não tratado pode levar à morte neonatal”

A sepse em recém-nascidos, observou Dr. Polnaszek, “é um diagnóstico crítico a ser feito, e que não pode ser perdido, pois muitas vezes tem bons resultados se tratado apropriadamente”, enquanto que “não tratado pode levar à morte neonatal”.

“Estudos futuros são necessários”, concluem os autores, “para corroborar e identificar estratégias para reduzir a morbidade neonatal com o aumento do número de mulheres com obesidade”.

O estudo foi financiado por Eunice Kennedy Shriver National Institute of Child Health and Human Development e Robert Wood Johnson Foundation. Os autores não declararam conflitos de interesses relevantes.

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referências: Obstet Gynecol. Publicado on-line em 17 de agosto de 2018.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6502806#vp_2