A obesidade está associada à depressão, e é particularmente comum em pacientes com obesidade grave. O tratamento antidepressivo também pode estar associado ao ganho de peso, por meio de mecanismos que são apenas parcialmente compreendidos. A alta prevalência atual de uso de antidepressivos pode ter impactos potencialmente importantes na saúde pública através da associação com o ganho de peso corporal, mas a natureza desta associação é mal descrita.
O presente estudo de coorte de base populacional, realizado no Reino Unido, utilizou dados do UK Clinical Practice Research Datalink, coletados entre 2004 e 2014 e envolveu 136.762 homens e 157.957 mulheres com três ou mais registros do índice de massa corporal (IMC). O objetivo foi avaliar a associação a longo prazo entre prescrição de antidepressivos e peso corporal.
Os principais desfechos foram prescrição de antidepressivos, aumento ≥ 5% no peso corporal e transição para sobrepeso ou obesidade. Razões de taxa ajustadas foram estimadas a partir de um modelo de Poisson ajustando para idade, sexo, registro de depressão, comorbidade, coprescrição de antiepilépticos ou antipsicóticos, privação, tabagismo e aconselhamento sobre dieta.
No ano de entrada do estudo, 17.803 homens e 35.307 mulheres com idade média de 51,5 anos receberam prescrição de antidepressivos. Durante 1.836.452 pessoas-ano de acompanhamento, a incidência de novos episódios de ganho de peso ≥5% em participantes que não receberam prescrição de antidepressivos foi de 8,1 por 100 pessoas-ano e em participantes para os quais foram prescritos antidepressivos foi de 11,2 por 100 pessoas-ano .
O risco de ganho de peso permaneceu aumentado durante pelo menos seis anos de acompanhamento. No segundo ano de tratamento, o número de participantes tratados com antidepressivos por um ano para um episódio adicional de ganho de peso ≥5% foi de 27.
Em pessoas que estavam inicialmente com peso normal, a razão da taxa ajustada para transição para sobrepeso ou obesidade foi de 1,29 (1,25 a 1,34); em pessoas que estavam inicialmente com sobrepeso, a razão da taxa ajustada para a transição para a obesidade foi de 1,29 (1,25 a 1,33). As associações podem não ser causais e a confusão residual pode contribuir para a superestimação de associações.
O estudo concluiu que a utilização generalizada de antidepressivos pode estar contribuindo para o aumento do risco a longo prazo de ganho de peso em nível populacional. O potencial para ganho de peso deve ser considerado quando o tratamento antidepressivo é indicado.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Fonte: The BMJ, publicado em 23 de maio de 2018
https://www.news.med.br/p/medical-journal/1320963/utilizacao+de+antidepressivos+e+incidencia+de+ganho+de+peso+durante+10+anos+de+seguimento+estudo+publicado+pelo+bmj.htm