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A prática de exercícios é remédio contra o câncer, diz coalizão global

A oncologia contemporânea está “deixando os pacientes com diagnóstico de câncer na mão”, no que diz respeito à prescrição de exercícios, diz um artigo que urge os leitores a adotar imediatamente as medidas preconizadas, redigido por uma coalizão global de 40 líderes de 17 organizações, encabeçada pelo American College of Sports Medicine (ACSM).

“Um medicamento que tivesse benefícios semelhantes provavelmente seria amplamente prescrito”, escreveram os autores, liderados pela Dra. Kathryn Schmitz, Ph.D., do Penn State Cancer Institute, nos Estados Unidos.

A partir de agora, a prescrição de exercícios deve ser rotina para todos os pacientes oncológicos com esta indicação, e perguntar sobre a prática de atividades físicas deve ser como verificar os sinais vitais, “assim como a pressão arterial”, que é registrada em todas as consultas dos pacientes, afirmaram os autores.
A maioria das pessoas que vive com câncer, e sobrevive ao câncer, não faz atividades físicas regulares, disse a equipe.

Os autores oferecem um algoritmo de avaliação-orientação-encaminhamento com duas perguntas, que segundo eles, “não exige muito tempo, nem treinamento do oncologista”.

O estudo foi publicado on-line em setembro no periódico CA: A Cancer Journal for Clinicians.

Atualmente, existem 44 milhões pacientes que sobreviveram ao câncer em todo o mundo, e a cada ano, são feitos 18,1 milhões de diagnósticos. Entre um e dois terços das pessoas que vivem com câncer, ou sobreviveram ao câncer, são completamente inativos, de acordo com três grandes estudos de coorte com quase 13.000 pessoas nos EUA e no Reino Unido.

“Chegamos a um ponto em que temos mais evidências sobre o efeito dos exercícios na oncologia do que tínhamos ao definir a rotina de atendimento para a doença cardíaca”, disse Dra. Kathryn. “É hora de falar em uma só voz; chegou o momento da mudança de paradigma na oncologia.”

Desde a última mesa redonda do ACSM, em 2010, foram publicados mais de 2.500 ensaios clínicos randomizados e controlados sobre a prática de exercícios na oncologia. Estes ensaios clínicos foram acompanhados de artigos das sociedades National Comprehensive Cancer Network, American College of Surgeons, American Society of Clinical Oncology, Exercise and Sports Science Australia (ESSA) e outras organizações instando os médicos a adotar imediatamente os “exercícios como remédio”.

Curiosamente, todavia, nunca foi comprovado em ensaios clínicos randomizados e controlados que a prática de exercícios melhora a sobrevida dos pacientes com câncer. Isto pode mudar nos próximos anos, com os ensaios clínicos sobre vários tipos de câncer em andamento.

As novas recomendações representam a primeira chamada global para implementação dos exercícios no tratamento do câncer, com a participação de organizações dedicadas ao câncer e/ou aos exercícios, como US Centers for Disease Control and Prevention and National Cancer Institute, UK’s Macmillan Cancer Support, Canadian Society for Exercise Physiology , ESSA, Royal Dutch Society for Physical Therapy e German Union for Health Exercise and Exercise Therapy.

Avaliar, orientar e encaminhar

O algoritmo avaliação-orientação-encaminhamento tem duas perguntas. A primeira é: “Na semana passada, quantos dias você praticou atividades físicas durante as quais seu coração bateu mais rápido e sua respiração ficou ofegante por 30 minutos ou mais?”

E a segunda é: “Na semana passada, quantos dias você praticou atividades físicas para aumentar a força muscular, como levantamento de pesos?”

A seguir, os médicos devem se perguntar: “É seguro para este paciente se exercitar sem supervisão médica?”
Caso a resposta seja positiva, então o médico deve orientar o paciente a fazer exercícios aeróbicos de intensidade moderada durante até 30 minutos, três vezes por semana, e exercícios de resistência duas vezes por semana, durante 20 a 30 minutos.

Por último, se possível, o médico deve encaminhar esses pacientes para o “melhor programa disponível”.

Os autores dizem ainda que a sua “proposta simples” é para os médicos que encaminham os pacientes para fazer exercícios em casa ou fora dela para futura avaliação e intervenção de reabilitação ambulatorial.

A prescrição de exercícios para os pacientes com câncer vai exigir algumas mudanças entre as partes interessadas, disseram os autores. “Isso vai exigir a coordenação do atendimento pelos profissionais indicados, bem como a mudança de comportamentos dos médicos, dos pacientes e dos profissionais que fazem os programas de exercícios de reabilitação”, escreveram os autores.

Outros desafios dessa implementação são a capacidade de rastreamento e encaminhamento, a necessidade do registro dos programas, custos e ressarcimentos e o estabelecimento de uma equipe de trabalho, declararam os especialistas.

Vários países estão em diferentes fases da prescrição de exercícios. O maior desafio enfrentado pelos Estados Unidos, disse Dra. Kathryn, é a natureza fragmentada do atendimento oncológico.

“A existência de diferentes prontuários médicos que não conversam entre si. Se essa conversa fosse viável poderíamos utilizar o aprendizado por máquina (machine learning) para o rastreamento adequado dos pacientes, e disparar mensagens para as pessoas se lembrarem de se exercitar”, disse Dra. Kathryn.

Dois outros artigos foram publicados por este grupo internacional. Além do atual documento instando sua implementação imediata, dois artigos estão em vias de ser publicados pelo periódico Medicine & Science in Sports & Exercise e apresentam o atual embasamento em evidências que respalda a prática de exercícios como remédio contra o câncer.

A Dra. Sandra Hayes, Ph.D., da Queensland University of Technology, na Austrália, que não participou da elaboração do relatório em tela, disse que os pesquisadores em prática de exercícios têm se empenhado em ter suas descobertas adotadas pelos oncologistas.

Em 2017, a Dra. Sandra e sua equipe mostraram o benefício da prática de exercícios, em termos de mortalidade, em uma análise exploratória dos dados combinados de dois ensaios clínicos controlados e randomizados durante oito meses sobre programas de exercícios para pacientes oncológicos, disse a pesquisadora.

A equipe australiana informou que, após uma mediana de tempo de acompanhamento de 8,3 anos, houve 11 (5,3%) óbitos no grupo do exercício, comparado a 15 (11,5%) óbitos no grupo do atendimento de rotina (razão de risco de sobrevida global para o exercício = 0,45; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,20 a 0,96; P = 0,04).

O estudo feito com 237 australianas foi finalmente aceito pela publicação Breast Cancer Research and Treatment , mas foi difícil fazer os editores se interessarem. “Lutei para conseguir publicar esses resultados… isso não faz parte do perfil”, disse a Dra. Sandra em uma entrevista no 2017 San Antonio Breast Cancer Symposium.

Na época, a Dra. Sandra ressaltou o fato de esses resultados serem de caráter exploratório e em pequeno número, no entanto, ela também comentou que, “se algum medicamento fizesse isso haveria pessoas gritando a plenos pulmões”.

Dra. Sandra participou da elaboração das diretrizes ESSA 2019. A pesquisadora acredita que a percepção da importância dos exercícios para os pacientes com câncer está mudando.

“Onde ainda temos espaço para melhorar é em como fazer com que isso seja incorporado à consulta”, disse Dra. Sandra, “e fazer as pessoas começarem a se mexer”. A pesquisadora também disse que quem paga deve tomar a iniciativa e disponibilizar a mão-de-obra especializada necessária para atender essa demanda.

A Dra. Kathryn concordou que a solução é multifatorial. “Nenhum de nós tem nenhum tipo de interesse em demonizar o oncologista. Eles estão sobrecarregados. Não se trata simplesmente do oncologista precisar falar mais disso, é necessário haver uma mão-de-obra melhor e mudanças nas políticas de saúde. E, mesmo quando o oncologista fala que a pessoa precisa se mexer, o público diz que não deve. É uma mudança estrutural.”

Os programas top de linha destacados nas novas recomendações foram o MoveMore, um programa da instituição humanitária UK Macmillan Cancer Support US e o da organização de apoio ao câncer LIVESTRONG. O MoveMore agora é parte integrante do protocolo de tratamento do câncer no Reino Unido, oferecendo pelo menos um ano de intervenções gratuitas de exercícios para todos os pacientes com câncer.
O LIVESTRONG, a maior dessas iniciativas no mundo, oferece programas para pequenos grupos de até 12 semanas por paciente.

Esses programas tiveram anos de planejamento. No entanto, tem duas coisas simples que todo oncologista poderia fazer agora para estimular os pacientes com câncer a praticar exercícios, disse Dra. Kathryn. “Perguntar sobre a prática de exercícios. Avaliar a prática de exercícios”, disse.

“Porque esse gesto diz para o paciente é que isso é importante para o médico.” Se o oncologista sequer mencionar os exercícios, o paciente presume que não tem nenhum problema ser sedentário, disse Dra. Kathryn.

O financiamento da equipe do relatório do ACSM foi feito por: ACSM, American Cancer Society, American Academy of Physical Medicine and Rehabilitation, American Physical Therapy Association, Canadian Society for Exercise Physiology, Exercise and Sports Science Australia, German Union for Health Exercise and Exercise Therapy, Macmillan Cancer Support, Royal Dutch Society for Physical Therapy e Sunflower Wellness. Dra. Kathryn Schmitz e Dra. Hayes informaram não ter conflitos de interesse.

CA Cancer J Clin. Publicado on-line em 16 de outubro de 2019.

Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referencia: https://portugues.medscape.com/verartigo/6504164#vp_3