Aproximadamente um quinto dos casos de Câncer Colorretal que se apresenta como uma emergência poderia ter sido diagnosticada mais precocemente pela presença de sintomas típicos da doença, concluiu uma equipe de pesquisadores do Reino Unido.
Os pesquisadores analisaram dados de clínicos gerais e descobriram que os sintomas de “alarme”, como anemia, sangramento retal e mudança nos hábitos intestinais, são significativamente menos comuns entre pacientes com câncer colorretal que se apresentam como emergências do que entre aqueles diagnosticados fora do contexto emergencial.
No entanto, os sintomas de alarme ainda assim foram identificados por seus clínicos gerais (GPs) no ano anterior ao diagnóstico em 18% dos pacientes com câncer de cólon e 23% daqueles com câncer retal que se apresentaram como uma emergência.
O estudo, publicado na edição de 27 de setembro do British Journal of Cancer, foi liderado pela Dra. Cristina Renzi, do Health Behaviour Research Centre da University College London e do Cancer Survival Group da London School of Hygiene and Tropical Medicine, no Reino Unido.
“A maioria dos pacientes que têm câncer detectado na emergência pode ser mais difícil de diagnosticar, porque muitas vezes não apresenta sintomas típicos de câncer intestinal”, disse a Dra. Cristina em um comunicado à imprensa.
“Entretanto, na maioria dos casos, eles consultaram seu médico por várias razões diversas vezes durante os meses que antecederam o diagnóstico, o que poderia representar oportunidades para diagnosticar o câncer mais precocemente”.
“Este estudo destaca a necessidade de apoiar os clínicos gerais e lhes oferecer as ferramentas para diagnosticar e encaminhar os pacientes prontamente quando sentem que é necessário”, acrescentou.
“Em alguns casos nos quais pessoas foram diagnosticadas após uma apresentação de emergência, poderia ter havido oportunidades para que fossem diagnosticadas mais precocemente e é importante tentar encontrar melhores maneiras de detectar esses pacientes e encaminhá-los de forma adequada”.
Ela acrescentou: “Pesquisas como estas, para entender mais sobre o histórico de sintomas dos pacientes, são cruciais para encontrar melhores formas de diagnosticar a doença em uma fase precoce, quando é mais provável que o tratamento seja bem-sucedido”.
Detalhes do estudo
Para comparar pacientes com câncer colorretal diagnosticados no contexto de emergência ou fora da emergência, a equipe reuniu dados do registro de base populacional National Cancer Register sobre 58.359 casos de câncer de cólon ou reto incidentes diagnosticados entre 2005 e 2006. Eles foram associados a informações do Clinical Practice Research Datalink, que compreende prontuários anônimos de 600 clínicas gerais.
Dos pacientes, 1.029 foram diagnosticados com câncer de cólon e 577 com câncer retal. Um diagnóstico na emergência foi registrado para 35% dos pacientes com câncer de cólon e 15% dos pacientes com câncer de reto. Diagnósticos no contexto de emergência foram significativamente mais comuns em mulheres e entre aqueles com mais de 80 anos, tanto para câncer de cólon quanto de reto, enquanto privação socioeconômica esteve associada a uma apresentação de emergência no câncer retal.
O número de consultas com clínico geral nos dois a cinco anos anteriores ao diagnóstico não diferiu significativamente entre os pacientes que se apresentam através da emergência e fora do contexto emergencial, com 88% dos pacientes em ambos grupos tendo visitado seu clínico pelo menos uma vez por ano.
Nos dois anos antes do diagnóstico, o número de consultas por qualquer motivo aumentou no contexto de emergência e também no não emergencial. Os pacientes que se apresentaram fora da emergência com câncer de cólon consultaram seu clínico significativamente mais vezes no ano antes do diagnóstico. O padrão oposto foi visto para pacientes com câncer retal, nove em relação a 12 consultas .
Embora mais de 95% dos pacientes tenha consultado seu médico no ano anterior ao diagnóstico, houve uma diferença significativa na proporção de pacientes com pelo menos um sintoma relevante entre os que se apresentaram na emergência e no contexto não emergencial, 48% em relação a 71% para câncer de cólon e 49% em relação a 61% para o câncer retal.
Aqueles que se apresentaram fora da emergência tiveram uma prevalência significativamente maior de pelo menos um sintoma de alarme do que os diagnosticados na emergência no ano antes do diagnóstico, 39,5% em relação a 17,5% para câncer de cólon e 38,8% em relação a 23% para o câncer retal.
Oportunidades para diagnóstico mais precoce
Salientando que houve “oportunidades para o diagnóstico mais precoce” em um quinto dos casos de câncer colorretal diagnosticados na emergência, a equipe escreve: “Para reduzir as apresentações de emergência, abordagens multidisciplinares em todo o sistema são necessárias para abordar pontos críticos ao longo do processo de diagnóstico, bem como visando diferentes subgrupos de pacientes.”
“Mais especificamente, nossos resultados sublinham a importância de dedicar atenção especial aos pacientes que consultam com frequência maior do que o habitual, mesmo que seus sintomas não sejam imediatamente sugestivos de câncer”.
Estimulando uma “busca mais ativa e sistemática por sintomas”, eles sugerem que os clínicos gerais sejam apoiados durante a fase de diagnóstico inicial e o subsequente período de acompanhamento por enfermeiros treinados.
Eles também recomendam visitas de acompanhamento pré-agendadas em pacientes de maior risco, juntamente com o desenvolvimento de centros de diagnóstico multidisciplinares e campanhas de educação pública para enfatizar a importância de discutir os sintomas assim que eles aparecem e o monitoramento contínuo.
“Reduzir as apresentações no contexto de emergência permitirá uma utilização mais eficiente e adequada dos serviços de saúde, melhoria no atendimento ao paciente e aumento na sobrevida de pacientes com câncer”, conclui a equipe.
O financiamento para este trabalho foi fornecido por Early Diagnosis Advisory Group e Cancer Research UK. Os autores declararam não possuir conflitos de interesses relevantes.
Br J Cancer. 2016;115:876-886. Resumo
referência: http://portugues.medscape.com/verartigo/6500566#vp_2