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Exame de fezes não invasivo é eficaz no rastreamento de câncer de cólon

Exames de fezes por imunoquímica (FITs, do inglês Fecal Immunochemical Tests), feitos anualmente, são eficazes para o rastreamento do câncer colorretal (CRC) nos adultos assintomáticos de risco médio, de acordo com uma nova metanálise.

“Nossos resultados fornecem as evidências mais fortes até hoje corroborando as recomendações que os pacientes de risco médio podem optar com segurança pelo exame de fezes anual, feito em casa e fácil de usar, em vez de fazer colonoscopia de rastreamento”, disse o principal autor Dr. Thomas Imperiale, médico e professor da cátedra Lawrence Lumeng de gastroenterologia e hepatologia na Indiana University School of Medicine e no Regenstrief Institute, em Indianápolis.
“Eu gostaria de ver os pacientes mais bem informados acerca das opções de rastreamento do câncer colorretal, das opções à colonoscopia, e mais capazes de poder discutir esse assunto com seus médicos, caso estes não mencionem os exames de fezes por imunoquímica como uma opção”, acrescentou o Dr. Thomas.

A metanálise foi em 25 de novembro no periódico Annals of Internal Medicine.

A US Preventive Services Task Force (USPSTF) recomenda atualmente o rastreamento do câncer colorretal para as pessoas entre 50 e 75 anos de idade por meio de uma dentre várias opções: exame de sangue oculto nas fezes (categoria que inclui o exame por imunoquímica), sigmoidoscopia, colonoscopia e outros exames. A USPSTF não recomenda um tipo de rastreamento mais do que outro.

A colonoscopia é considerada como padrão ouro para o rastreamento do câncer colorretal nos Estados Unidos, mas apenas de 60% a 65% da população americana elegível faz o rastreamento atualmente, observam os autores. Vários outros países, especialmente aqueles nos quais os recursos para a saúde são limitados, usam exames de sangue oculto nas fezes anuais ou bienais, ou uma associação de exames de fezes e endoscopia digestiva baixa para o rastreamento, dizem os autores.

Detalhes do estudo

Para essa metanálise, Dr. Thomas e coautores revisaram e analisaram os resultados de 31 estudos que avaliaram a sensibilidade e a especificidade do exame de fezes por imunoquímica para o câncer colorretal. A revisão foi feita com 120.255 participantes assintomáticos e 18 exames de fezes por imunoquímica.
Os exames de fezes por imunoquímica usados nos estudos foram o OC-Sensor (Eiken Chemical), que foi utilizado em 14 (58%) estudos, o OC FIT-CHEK (Eiken Chemical), o OC-Light (Eiken Chemical), o OC-Hemodia (Eiken Chemical) e o FOB Gold (Sentinel Diagnostics).
As características de desempenho dos exames de fezes por imunoquímica dependeram dos limiares usados para determinar se o resultado é positivo.
O limiar de 10 μg/g resultou em sensibilidade de 0,91 (intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,84 a 0,95) e razão de verossimilhança negativa de 0,10 para o câncer colorretal, enquanto o limiar de > 20 μg/g resultou em 0,95 de especificidade e razão de verossimilhança positiva de 15,49.

Os pesquisadores também avaliaram as características de desempenho dos exames de fezes por imunoquímica para os adenomas avançados em pessoas de risco médio que fizeram colonoscopia de rastreamento.

Nestes casos, os exames de fezes por imunoquímica foram muito menos sensíveis para os adenomas avançados. A sensibilidade foi de 0,40 e a razão de verossimilhança negativa foi de 0,67 a 10 μg/g. Com > 20 μg/g, a especificidade foi de 0,95 e a razão de verossimilhança positiva foi de 5,86.

Nem todos os exames de fezes por imunoquímica são fabricados do mesmo modo

“Nossos resultados sugerem a necessidade da comparação entre cada exame de fezes por imunoquímica, em diferentes limiares, tanto para o câncer colorretal como para os adenomas avançados”, disse Dr. Thomas.

No editorial que acompanha o estudo, o Dr. James Allison, médico da University of California, San Francisco e pesquisador emérito da Kaiser Permanente’s Division of Research, escreve que “a revisão sistemática pode ajudar a tranquilizar os médicos e os pacientes sobre o desempenho da detecção do câncer colorretal pelo exame de fezes por imunoquímica”.

Em entrevista, o Dr. James observou que alguns médicos do atendimento primário nos Estados Unidos, bem como muitos de seus pacientes, podem não saber que a eficácia dos exames de fezes por imunoquímica é semelhante à eficácia da colonoscopia quando usados de modo programático e sistemático para o rastreamento do câncer colorretal.

“Precisamos nos desvencilhar da ideia de que só existe um bom exame de rastreamento do câncer colorretal. Temos de aumentar os números do nosso rastreamento nacional do câncer colorretal, especialmente na população vulnerável – as pessoas sem cobertura de saúde, com cobertura insuficiente, e os pobres. Dizer que a colonoscopia é o melhor exame de rastreamento, ou o padrão ouro, não é nem útil nem verídico. É um bom exame, e eu não estou dizendo para não fazer colonoscopia. O que estou dizendo é para não se limitar à colonoscopia só porque alguns a consideram o melhor exame ou o padrão ouro”, disse Dr. James.

 

Dizer que a colonoscopia é o melhor exame de rastreamento, ou o padrão ouro, não é nem útil nem verídico.
Dr. James Allison

 

“Não há nenhuma diretriz norte-americana de rastreamento do câncer colorretal em 2019 que afirme que a colonoscopia é o melhor exame, que é o exame padrão ouro. Os exames de fezes por imunoquímica estão no mesmo nível da colonoscopia”, acrescentou o Dr. James.

Dr. James também alertou que as pessoas de médio risco que fazem o rastreamento por exames de fezes por imunoquímica devem se certificar de que o teste fornecido pelo médico ou pelo sistema de saúde tenha sido estudado com rigor, e que o seu desempenho anunciado tenha sido confirmado.

“A aprovação da Food and Drug Administration (FDA) norte-americana dos exames de fezes por imunoquímica como simples testes de sangue oculto, em vez de neoplasias colorretais avançadas possibilitou a aprovação de testes com baixo desempenho. Existem 120 testes para exame de fezes por imunoquímica aprovados pela FDA no mercado. Vários são produzidos no exterior, particularmente na China. Muitos são comercializados como sendo tão bons quanto os testes cujo desempenho foi bem avaliado e não o são”, alertou o editorialista.

Se dirigindo aos médicos, o Dr. James disse: “para se assegurar de que você está solicitando o melhor teste para fazer o exame de fezes por imunoquímica do seu paciente, consulte as últimas diretrizes de 2017 da US Preventive Services Task ForceF.

Dr. James também reivindica mudanças nas leis existentes que cobram pagamento solidário da colonoscopia realizada após o paciente receber um resultado positivo nos exames de fezes por imunoquímica.

“Precisamos de políticas de pagamento melhores e mais coerentes, que assegurem a cobertura da colonoscopia após um resultado alterado dos exames de fezes por imunoquímica”, disse o Dr. James.

O estudo foi financiado pelo Department of Medicine of Indiana University School of Medicine. O Dr. Thomas Imperiale e o Dr. James Allison informaram não ter conflitos de interesse relevantes.

 

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

 

Referência: Ann Intern Med. Publicado on-line em 25 de fevereiro de 2019.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6503344#vp_2