A incidência de câncer aumentou em todo o mundo durante a última década, mas ao menos parte desse aumento é decorrente de câncer de pulmão, colorretal e de pele, que são potencialmente evitáveis, indica o estudo Global Burden of Disease (GBD).
“Embora o aumento do câncer de pulmão, colorretal e de pele na última década seja preocupante, o potencial de prevenção deles é significativo”, disse a Dra. Christina Fitzmaurice, professora-assistente de saúde global no Institute for Health Metrics and Evaluation na University of Washington, em Seattle (EUA), em um comunicado da instituição.
“Esforços vitais de prevenção, como o controle do tabaco, as intervenções alimentares, e as campanhas mais amplas de promoção da saúde, precisam ser expandidos em resposta a esse aumento dos tipos de câncer relacionados com o estilo de vida”, acrescentou.
A análise sistemática do estudo Global Burden of Disease foi feita com 29 grupos de neoplasias para as quais a incidência, a mortalidade e os anos de vida ajustados pela incapacidade (DALYs) foram avaliados em 195 países e territórios entre 2006 e 2016.
“Os casos de câncer aumentaram 28% entre 2006 e 2016”, informam os pesquisadores, acrescentando que os maiores aumentos se deram nos países menos desenvolvidos.
Em 2016, 17,2 milhões de pessoas em todo o mundo foram diagnosticadas com algum tipo de câncer, e 8,9 milhões morreram da doença neste mesmo ano.
O câncer também causou 213,2 milhões de anos de vida ajustados pela incapacidade no mesmo ano, praticamente todos eles por anos de vida perdidos.
“Em todo o mundo, as chances de ter câncer durante toda a vida (do nascimento aos 79 anos de idade) diferiram em termos de sexo”, continuaram os autores.
As chances de ter câncer foram de 1 em 3 entre os homens, em comparação com 1 em 5 para as mulheres, embora essas chances tenham diferido substancialmente entre os vários quintis do índice sociodemográfico (IDS).
Por exemplo, o risco de câncer passou de 1 em 8 no quintil de índice sociodemográfico mais baixo para homens e mulheres, para 1 em 2 no quintil de índice sociodemográfico mais elevado para os homens, e 1 em 3 no quintil de índice sociodemográfico mais alto para as mulheres.
Países com alto índice sociodemográfico têm altos níveis de renda e educação, e baixos níveis de fertilidade, enquanto os países com baixo índice sociodemográfico têm baixos níveis de renda e educação e altos níveis de fertilidade.
“Em 2016, os tumores de próstata, traqueia, brônquios, pulmão e colorretal foram os tipos de câncer incidentes mais comuns entre os homens – respondendo por 40% de todos os casos de câncer”, relatam os pesquisadores.
O câncer de pulmão foi a principal causa de morte relacionada com o câncer entre os homens em todo o mundo, bem como a principal causa de mortalidade por câncer em todo o mundo, respondendo por quase 20% de todas as mortes relacionadas à doença em 2016, indicam os pesquisadores.
Entre as mulheres, os tipos de câncer mais comuns foram mama, colorretal e câncer de pele não-melanoma, que representaram 40% de todos os casos da doença nesta população em 2016.
Entre 2006 e 2016, os índices anuais de incidência padronizados por idade para todos os tipos de câncer aumentaram em 130 dos 195 países avaliados.
Por outro lado, os índices anuais de mortalidade padronizados pela idade e por todos os tipos de câncer diminuíram em 143 dos 195 países avaliados, com exceção dos países africanos e dos países no Oriente Médio, onde os índices anuais de mortalidade por câncer não diminuíram.
Ao longo da década, os países com índice sociodemográfico médio tiveram o maior aumento dos índices de incidência de câncer: 38%. A maior proporção desse aumento foi atribuída à idade.
De fato, tanto nos países de média quanto nos de alta renda, o aumento da incidência de câncer deveu-se principalmente ao envelhecimento da população, apontam os pesquisadores.
Heterogeneidade considerável
Pesquisadores também observaram que houve uma “heterogeneidade considerável” em termos de incidência, mortalidade e anos de vida ajustados pela incapacidade por câncer entre os países com baixo e alto índice sociodemográfico.
Por exemplo, as mulheres nos países com baixo índice sociodemográfico tinham quase quatro vezes mais chances de apresentar câncer do colo do útero em comparação com as mulheres dos países com alto índice sociodemográfico.
Houve também uma variação importante da incidência de câncer de estômago e fígado nos países com diferentes índices sociodemográficos, embora os índices de câncer do colo do útero e de estômago tenham caído em todos os quintis do índice sociodemográfico durante a última década, observam os autores do estudo.
Por outro lado, tanto a incidência quanto os índices de mortalidade por câncer foram maiores nos países com alto índice sociodemográfico em 2016 do que em nos países com baixo índice sociodemográfico.
Por exemplo, o risco de ter câncer de mama ao longo da vida foi maior, de 1 em 10, para mulheres nos países com alto índice sociodemográfico, comparado a apenas 1 em 50 para as mulheres em países com baixo índice sociodemográfico.
“Já que, no melhor dos casos, apenas uma parte desses tumores é evitável nas condições atuais, oferecer acesso universal ao atendimento em saúde é crucial para o controle do câncer”, observam os pesquisadores.
“Melhorar o acesso às avançadas tecnologias diagnósticas não comumente disponíveis nos países com baixo índice sociodemográfico é um passo crucial para alcançar equidade em saúde em todo o mundo”, acrescentou a Dra. Christina em comunicado.
O Institute for Health Metrics and Evaluation recebeu financiamento da Bill & Melinda Gates Foundation. Os autores informaram não possuir conflitos de interesses relativos ao tema.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Referência: Artigo: Incidência de câncer em alta na maior parte do mundo – Medscape – 26 de junho de 2018.
JAMA Oncol. Publicado on-line em 2 de junho de 2018. https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/fullarticle/2683251