Dra. Carolina Gonçalves - Saúde Digestiva e Cirurgia

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Incidência de doença biliar aumenta com laparoscopia bariátrica

A substituição da cirurgia bariátrica a céu aberto pela cirurgia laparoscópica, que ocorreu na última década, fez com que incidência de doença biliar aumentasse, sugerem os resultados de um novo estudo retrospectivo.

“É claro que não estamos sugerindo o retorno da era da cirurgia bariátrica a céu aberto – a laparoscopia é muito mais segura para os pacientes de modo geral –, mas os médicos precisam estar cientes de que depois da laparoscopia bariátrica podem ocorrer complicações biliares”, disse a pesquisadora Dra. Violeta Popov, Ph.D., médica do VA NY Harbor Healthcare System, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

Qualquer emagrecimento repentino e drástico, seja cirúrgico ou não, sabidamente predispõe aos cálculos biliares. Por isso, na época da cirurgia a céu aberto, a vesícula biliar costumava ser removida durante o procedimento bariátrico, como medida profilática. O procedimento exigia um acréscimo mínimo no tempo de anestesia e expunha o paciente a um risco adicional ínfimo de complicações. No entanto, com o advento da cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, a colecistectomia concomitante foi abandonada.

“A cirurgia bariátrica por videolaparoscopia tornou-se cada vez mais comum de 2006 a 2014 e, com a popularidade da técnica, a vesícula passou a não ser mais ressecada”, disse o principal pesquisador do estudo, Andrew Thompson, da NYU School of Medicine, também em Nova York, que apresentou os resultados no American College of Gastroenterology 2018 Annual Scientific Meeting.

                                                                       “Supomos e demonstramos que a mudança está relacionada com risco de doença biliar”

 

Utilizando o banco de dados norte-americano National Inpatient Sample, Andrew e Dra. Violeta analisaram o número de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica internados no hospital com pancreatite, colecistite aguda, colangite biliar aguda ou colecistectomia em 2006 e em 2014. Nesses dois anos, 135.980 pacientes deram entrada no hospital por colangite aguda, 98.098 por colangite biliar aguda e 782.395 por pancreatite aguda, sendo que 861.549 fizeram colecistectomia.

Os pacientes que fizeram cirurgia bariátrica tiveram de 10 a 100 vezes mais probabilidade de dar entrada no hospital por qualquer doença relacionada com as vias biliares em 2014 do que em 2006.

Os pesquisadores reconheceram que podem existir outros fatores modificando a incidência de doença biliar nos pacientes depois da cirurgia bariátrica, e observaram que parte do aumento entre os nãos de 2006 e 2014 pode estar relacionado com o aumento geral da prevalência de obesidade.

As limitações do estudo foram o desenho retrospectivo e a dependência de códigos das doenças. O código da CID-9 para cirurgia bariátrica ficou disponível em 2006. Assim, com o tempo, o uso e o reconhecimento deste código pode ter aumentado, informaram os autores. Além disso, os dados consideram apenas as internações, não as reinternações.
“É claro que são necessárias mais pesquisas; esperamos que o nosso estudo estimule isto”, disse a Dra. Violeta.

“Mas, acreditamos que tanto os médicos como os pacientes devem estar conhecer o risco de doença biliar após a cirurgia bariátrica laparoscópica”.

 

                                                              “Os cálculos na vesícula costumam surgir nos primeiros meses após o rápido emagrecimento”, acrescentou.

 

“Os pacientes devem ser tratados com ursodiol, medicamento que costuma ser prescrito para a prevenção da colelitíase e que vem demonstrando eficácia na redução da formação de cálculos biliares”. No entanto, a médica reconheceu que a adesão a este medicamento “é um problema”.

Era de se esperar

“Este é um abstract interessante, que confirmou o que os cirurgiões bariátricos suspeitavam e esperavam há muitos anos”, afirmou o Dr. Samer Mattar do Swedish Weight Loss Services, em Seattle, e presidente da American Society for Metabolic & Bariatric Surgery.

Depois de os princípios laparoscópicos terem sido adotados, “a colecistectomia concomitante tornou-se muito mais complexa, porque os sítios de inserção dos trocares não podem ser usados para os dois procedimentos”, explicou.

“Além disso, vários estudos destacaram o custo adicional, o maior número de complicações e o maior tempo de internação associados à colecistectomia concomitante, de modo que a relação de risco-benefício não foi vantajosa para do duplo procedimento, especialmente como medida preventiva”.

Mas, “os achados mais importantes deste estudo são que a cirurgia bariátrica laparoscópica está associada a menor mortalidade durante a internação, menor tempo de internação, e menor custo de modo geral”, disse o Dr. Samer.

O estudo não teve patrocínio comercial. Os autores e o Dr. Samer Mattar informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

Referências: American College of Gastroenterology (ACG) 2018 Annual Scientific Meeting: Poster 1610. Apresentado em 08 de outubro de 2018.

https://portugues.medscape.com/verartigo/6502896#vp_2