A sutura de uma cirurgia, por mais bem-feita que seja, é sempre um ponto mais frágil que o tecido íntegro. Cerca de 33% das pessoas submetidas à cirurgia abdominal experimentam hérnia incisional no pós-operatório. Ao longo da cicatriz da cirurgia pode haver uma fraqueza, que se alarga progressivamente, permitindo que os órgãos do interior do abdômen (principalmente intestino) se insinuem por este orifício, causando a hérnia incisional.
Como mais frequentemente essas hérnias resultam de incisões medianas anteriores no abdômen, as hérnias advindas daí são classificadas como hérnias ventrais. No entanto, nem todas as hérnias ventrais são produtos de incisões, pois algumas podem ser causadas por outros traumas ou problemas congênitos.
Quais são as causas da hérnia incisional?
As hérnias incisionais ocorrem dentro de três a seis meses após a cirurgia, mas podem ocorrer a qualquer tempo. Elas são causadas pelo enfraquecimento do músculo devido a uma incisão cirúrgica. Uma hérnia incisional pode ocorrer também pela ação adicional de vários motivos que aumentem a pressão intra-abdominal: tosse crônica, constipação intestinal, obstrução urinária, ascite, indivíduos que participam de atividade física excessiva ou prematura após a cirurgia, ganho de peso considerável, gravidez, etc. As hérnias incisionais também podem resultar de má técnica cirúrgica anterior.
Todas as pessoas que passaram por uma cirurgia abdominal correm um maior risco de desenvolver hérnias incisionais.
Quais são as principais características clínicas da hérnia incisional?
A hérnia incisional representa 15 a 20% de todas as hérnias abdominais. Ela é uma protrusão de tecido que se forma sobre ou próximo a uma incisão cirúrgica anterior. Pode haver também náusea, vômito, febre ou batimento cardíaco acelerado e dor no abdômen, especialmente ao redor da saliência.
Se a porção do intestino que se insinua na hérnia ficar presa (encarcerada) dentro da parede abdominal, o suprimento de sangue para ela pode ser cortado, gerando seu estrangulamento. Isso constitui uma urgência médica, podendo levar à necrose.
Como o médico diagnostica a hérnia incisional?
Para identificar uma hérnia incisional, o médico deve começar por um histórico clínico e exame físico que mostrará uma protuberância no abdômen no local de uma incisão anterior ou próximo a ela; pode-se pedir ao paciente que levante e/ou tussa, o que tende a tornar a hérnia mais pronunciada. O mesmo acontecerá com qualquer outra manobra que aumente a pressão dentro do abdome.
O médico pode, ainda, pedir exames de sangue para procurar infecções causadas pelo bloqueio intestinal ou pela necrose. A ultrassonografia, a ressonância magnética, a tomografia computadorizada ou outro recurso de imagem pode ser usado para verificar se há bloqueio ou a localização real da protrusão intestinal.
Como o médico trata a hérnia incisional?
O tratamento específico para uma hérnia incisional deve ser determinado pelo médico, levando em conta vários fatores, como saúde geral, anatomia, extensão e localização da hérnia e nível desejado de atividade física futura, mas é geralmente cirúrgico.
A hérnia incisional pode ser tratada por meio de uma cirurgia “aberta” ou de laparoscopia, ambas visando retornar o tecido protuberante de volta ao seu lugar, remover qualquer tecido cicatricial anômalo e colocar uma malha cirúrgica na abertura da hérnia para evitar recorrência. A maioria das hérnias incisionais não retorna após o reparo; no entanto, uma taxa de recorrência pode variar em 5 a 20% nos pacientes.
A cirurgia feita por laparoscopia usa pequenas incisões de cerca de 3 a 5 centímetros. Em ambos os tipos, contudo, a correção é feita com anestesia geral, mas nos reparos laparoscópicos os pacientes são acordados logo após o término do procedimento e poderão caminhar mais rapidamente, embora normalmente precise de cerca de três semanas antes de reiniciar a atividade física mais pesada. Dependendo do tamanho e complexidade da cirurgia, os pacientes podem permanecer por 2-4 dias no hospital ou até mesmo deixá-lo no dia seguinte.
Quais são as complicações possíveis da cirurgia de hérnia incisional?
O reparo “aberto” tradicional das hérnias incisionais pode ser difícil e complicado se a hérnia for extensa. Frequentemente ocorrem complicações, principalmente infecção da incisão, devido ao grande tamanho dela, mas necessária para a realização desta cirurgia. Uma infecção da tela após esse tipo de reparo frequentemente requer remoção completa e resulta em falha da cirurgia. Além disso, grandes incisões necessárias para reparo aberto são comumente associadas à dor pós-operatória significativa.
O reparo laparoscópico da hérnia incisional pode minimizar muito o potencial de complicações, no entanto, não se aplica a todos os casos. Além disso, o desempenho da operação através de incisões menores pode tornar a operação menos dolorosa e acelerar a recuperação. Nos casos indicados, o reparo laparoscópico demonstra ser seguro e mais resistente do que o reparo aberto.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Referência: https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1346073/hernia+incisional.htm