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Suplementos alimentares não reduzem mortalidade por doença cardiovascular ou câncer, mostra estudo

Para a população geral, o uso de suplementos alimentares não reduz o risco de mortalidade por doença cardiovascular (DCV) ou câncer, conclui um grande estudo de coorte.

“As pessoas deveriam buscar ter uma nutrição adequada por meio de uma alimentação saudável e equilibrada, em vez de depender de suplementos”, disse a autora principal, Dra. Fang Fang Zhang, PhD., médica da Tufts University, em Boston, Massachusetts.

Uma exceção foi o suplemento de licopeno, que parece reduzir o risco de mortalidade por DCV e câncer.

No entanto, o estudo também descobriu que o uso de um suplemento pode ser prejudicial: tomar suplementos com altas doses de cálcio parece aumentar o risco de morrer de câncer.

O estudo foi publicado on-line em 08 de abril de 2019 no periódico Annals of Internal Medicine.

“Dado que mais da metade dos norte-americanos toma suplementos alimentares para manter a saúde ou melhorar condições específicas de saúde, é importante avaliar o efeito que podem ter no risco de mortalidade”, comentou a Dra. Fang.

No estudo, o uso de suplementos alimentares nos 30 dias anteriores foi analisado entre 30.899 adultos que participaram de seis ciclos da pesquisa National
Health and Nutrition Examination Surveys (NHANES) de 1999 a 2000 e de 2009 a 2010.

A ingestão de nutrientes de alimentos e suplementos também foi analisada a partir de 27.725 participantes que forneceram uma ou duas informações válidas sobre a dieta de 24 horas.

A equipe categorizou a ingestão de nutrientes como “inadequada”: definida como níveis de ingestão total de nutrientes de alimentos e suplementos abaixo da necessidade média estimada; ou como “adequada”: quando a ingestão de nutrientes dentro dos níveis especificados nas Dietary Reference Intakes. O consumo excessivo de nutrientes foi determinado pela comparação da ingestão dos participantes com níveis acima do superior tolerável.

Os participantes do estudo que relataram tomar suplementos alimentares tinham média de idade de 50,7 anos, enquanto a média de idade daqueles que não tomaram suplementos alimentares foi de 42,8 anos.

“Mais da metade dos participantes (51,2%) relatou o uso de suplementos alimentares nos 30 dias anteriores e 38,3% relataram o uso de suplementos multivitamínicos e minerais (MVM)”, observam Dra. Fang e colaboradores.

Os suplementos vitamínicos mais usados incluíram vitamina C (usada por 40,3% dos participantes), vitamina E (usada por 38,6%) e vitamina D (usada por 37,6%).

Os suplementos minerais mais utilizados foram cálcio (usado por 38,6%), zinco (34,5%) e magnésio (33,3%).

Em geral, os participantes que tomaram suplementos apresentaram níveis mais altos de ingestão total de nutrientes para todos os 25 nutrientes avaliados em comparação com os não usuários. Mesmo quando o consumo de nutrientes dos suplementos foi descontado, eles ainda tinham níveis mais altos de consumo de nutrientes a partir dos alimentos para 23 nutrientes, em comparação com os indivíduos que não usavam suplementos, destacaram os pesquisadores.

Curiosamente, mais da metade de todos os participantes tiveram ingestão inadequada de vitamina D, vitamina E, colina, vitamina K e potássio. Menos de 5% de todos os entrevistados consumiram o que os pesquisadores determinaram como consumo “excessivo” para todos os nutrientes, exceto niacina.

“Durante um acompanhamento mediano de 6,1 anos, ocorreram 3.616 mortes, incluindo 945 mortes por DCV e 805 mortes por câncer”, relataram os pesquisadores.

Após ajuste multivariado, nenhum suplemento alimentar, exceto o licopeno, foi associado a menor risco de mortalidade. O licopeno reduziu o risco de mortalidade por todas as causas em 18% e a morte por câncer em 54%.

Nutrientes dos alimentos

Os pesquisadores começaram então a extrair os efeitos do consumo de nutrientes de alimentos em comparação com a mesma ingestão de nutrientes dos suplementos.

Inicialmente, os pesquisadores observaram que aqueles que tinham consumo adequado de vitamina K e magnésio tinham menor risco de mortalidade por todas as causas, enquanto aqueles que tinham ingestão adequada de vitamina A, vitamina K, cobre e zinco tinham risco menor de morte por DCV.

No entanto, “quando as fontes de nutrientes foram avaliadas, a menor mortalidade por todas as causas associada ao consumo adequado de vitamina K e magnésio, bem como a menor mortalidade por DCV associada à ingestão adequada de vitamina A, vitamina K, cobre e zinco, foram restritas ao consumo a partir de alimentos”, observaram Dra. Fang e colaboradores.

É importante ressaltar que a ingestão excessiva de cálcio foi associada a risco 62% maior de morte por câncer. Este risco limitou-se a altas doses de suplementos de cálcio ≥ 1.000 mg por dia, e não à ingestão de cálcio dos alimentos, observou a equipe.

Ao mesmo tempo, os pesquisadores também observaram que a suplementação de vitamina D em doses > 10 mcg por dia (ou de cerca de 400 UI por dia) estava associada a maior risco de mortalidade por todas as causas e por câncer.

No entanto, esse efeito foi observado apenas em participantes com níveis adequados de vitamina D, definidos como níveis séricos de 25-hidroxivitamina D > 50 nmol/L, e não em participantes com níveis séricos de 25-hidroxivitamina D < 50 nmol/L.

“Assim, o uso do suplemento de vitamina D ≥ 400 UI por dia pode ter efeitos indesejáveis entre aqueles sem sinais de deficiência de vitamina D”, observou a Dra. Fang.

 

“Para aqueles com deficiência de vitamina D, os suplementos de vitamina D não tiveram nenhum benefício ou malefício”, ela acrescentou.

 

A Dra. Fang observou que, se um paciente tem uma doença que possa causar má absorção dos nutrientes dos alimentos ou se faz alguma dieta ou tem hábitos alimentares específicos, ele podem estar em risco de deficiências nutricionais que necessitam de tratamento com suplementos alimentares.

Ela também alertou para a importância de os médicos perguntarem sobre o uso de suplementos alimentares para os pacientes com câncer, porque certos suplementos, como os antioxidantes, podem interferir nos tratamentos oncológicos.

“Assim, pacientes com deficiências nutricionais podem ser avaliados individualmente, de acordo com as suas necessidades individuais”, sugeriu ela.

No entanto, para a população geral, a Dra. Fang enfatizou que os alimentos costumam ser a fonte mais importante de nutrientes, e que os médicos devem orientar os pacientes de acordo.

Solicitada a comentar, a Dra. Elizabeth Kantor, médica do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, concordou e acrescentou: “As pessoas deveriam discutir as decisões sobre o uso de suplementos alimentares com profissionais de saúde.”

A Dra. Fang informou não ter relações financeiras relevantes, mas um dos pesquisadores declarou; consulte a publicação para mais informações. Dra. Elizabeth informou não ter relações financeiras relevantes.

Ann Intern Med. Publicado on-line em 08 de abril de 2019.

 

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

 

Referência: https://portugues.medscape.com/verartigo/6503474#vp_2