Fazer as pessoas pararem de fumar é a prioridade absoluta, de acordo com o último dossiê da série Blueprint de controle do câncer da American Cancer Society (ACS), mas o relatório também dá ênfase a outros fatores de risco modificáveis, como o consumo de álcool, a alimentação saudável e a prática de atividades físicas.
“Muitos tipos de câncer podem ser evitados se você não fumar, não beber e mantiver um peso saudável”, comenta a Dra. Susan Gapstur, Ph.D., epidemiologista e vice-presidente sênior de pesquisa comportamental e epidemiológica da American Cancer Society, em Atlanta, Geórgia (EUA).
O dossiê concluiu que um plano abrangente de controle, para respaldar a implementação de intervenções baseadas em evidências para a prevenção do câncer, “tem grande potencial de reduzir substancialmente o número de pacientes diagnosticados e morrendo de câncer, bem como os custos associados à doença a cada ano” nos Estados Unidos.
O artigo foi em 10 de outubro no periódico CA: A Cancer Journal for Clinicians.
“Estamos procurando disponibilizar evidências científicas sobre a prevenção, a detecção precoce, o tratamento e a sobrevivência do câncer, essencialmente para prover informações que contribuam para o embasamento das prioridades de um plano abrangente de controle da doença”, disse a Dra. Susan.
“Nosso verdadeiro objetivo era concentrar essas evidências e essas informações em um único lugar, então, em vez de ter uma série de artigos sobre cada fator de risco específico; um sobre tabaco, um sobre álcool, um sobre alimentação saudável, um sobre as atividades na vida diária, este dossiê traz tudo isso em um só lugar”, disse a pesquisadora.
A esperança é que a oferta de evidências em um só lugar traga a colaboração de outras organizações para implementar um plano abrangente de controle do câncer, revelou a Dra. Susan.
O primeiro artigo da série Blueprint trouxe as tendências atuais e descreveu o escopo do problema do câncer.
“O artigo em tela descreve o que sabemos sobre os fatores de risco modificáveis nos EUA e sua contribuição para o risco de câncer e, em seguida, as evidências para a intervenção de prevenção para reduzir esses fatores de risco na população”, disse a Dra. Susan.
Controle do tabaco é prioridade máxima
A expansão do controle do tabaco é a intervenção que traz os maiores benefícios potenciais para a saúde, de acordo com o dossiê.
“O tabagismo continua sendo a principal causa de mortalidade nos Estados Unidos, apesar das evidências disponíveis há mais de seis décadas. Sabemos que causa mortalidade prematura por várias doenças crônicas”, alertou a Dra. Susan.
Como transmitir essa mensagem às pessoas que continuam a fumar apesar da pletora de evidências sobre a letalidade do tabaco é uma questão importante, que a American Cancer Society aborda neste dossiê.
“É bem verdade que as tentativas de controle do tabagismo têm repercutido em grande parte nas pessoas de melhor nível educacional e, portanto, podemos precisar ajustar nossas mensagens ou veiculá-las de diferentes maneiras, para que possamos alcançar mais pessoas”, disse a pesquisadora.
O dossiê destaca algumas estatísticas sombrias sobre o tabagismo, bem como alguns dados que mostram que o controle do tabagismo está tendo um efeito positivo.
Mais da metade da queda de 26% da mortalidade por câncer nos Estados Unidos desde 1991 deve-se às reduções do uso de tabaco. Apesar dessa evolução, o tabagismo (tabagismo ativo e exposição passiva ao fumo) continua sendo a causa mais comum de câncer (19,4%; 304.880 casos) e de morte por câncer (29,6%, N = 173.670).
O tabagismo também tem um enorme impacto nos custos da saúde nos EUA. Estima-se que os custos anuais diretos da saúde relacionados com o tabagismo sejam de 170 bilhões de dólares, com 156 bilhões em perda de produtividade.
“Há evidências consideráveis de que o controle do tabaco pode prevenir mais mortes por câncer do que qualquer outra estratégia de prevenção primária”, disse a Dra. Susan.
O perfil demográfico dos fumantes mudou nos últimos 50 anos.
Hoje em dia, pessoas com menos escolaridade, menor nível educacional ou renda mais baixa, indivíduos com doença mental ou dependência de outras substâncias, pessoas da comunidade LGBT e os membros de certos grupos étnicos têm mais probabilidade de fumar.
Excesso de peso e álcool
O excesso de peso é a segunda causa modificável mais comum de câncer.
Cerca de 7,8% dos casos de câncer em 2014 foram atribuídos ao excesso de gordura corporal, perdendo apenas para o tabagismo. A incidência de câncer atribuível à população foi maior entre as mulheres, de 11%, do que entre os homens, de 4,8%. Entre as mulheres, 60,3% dos casos de câncer de útero foram atribuídos ao excesso de gordura corporal. Entre os homens e as mulheres combinados, mais de 30% dos tumores de vesícula biliar, fígado e rim, bem como dos adenocarcinomas de esôfago, foram atribuídos ao excesso de gordura corporal.
“Eu tendo a me manter distante do termo obesidade, porque a obesidade é uma categoria específica de excesso de peso corporal ou excesso de gordura corporal. É ter o índice de massa corporal (IMC) maior que 30, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso é importante reconhecer que “o excesso de peso corporal, mesmo na categoria de sobrepeso, está associado a maior risco de câncer. Portanto, não é apenas a obesidade”, ponderou a Dra. Susan.
O álcool é o terceiro fator de risco modificável mais importante.
“Eu acho que isso é realmente subestimado como fator de risco, porque as pessoas não gostam de falar sobre, nem de pensar a respeito. Mas é importante saber que representa mais de 16% de todos os casos de câncer de mama nas mulheres”, alertou.
As intervenções e as políticas terão de ser adaptadas às necessidades locais, disse a autora.
“Quando olhamos para um plano abrangente de controle do câncer, como deve ser esse aspecto? Onde está o maior impacto? E então, como podemos ajudar a implementar e adaptar as estratégias em nível nacional, estadual, municipal ou comunitário?” Os problemas de um estado podem não ser os mesmos de outros estados”, disse a Dra. Susan.
“Por exemplo, a prevalência do tabagismo varia consideravelmente nos estados norte-americanos e então o que terá o maior retorno para o investimento nos estados do Sudeste pode não ser o mesmo que terá o maior retorno nos estados do Noroeste. Nosso objetivo é documentar, oferecer esse lugar abrangente, no qual esperamos conseguir que as pessoas trabalhem de forma colaborativa para criar boas estratégias”, disse a pesquisadora.
A Dra. Susan Gapstur é funcionária da American Cancer Society, que recebe doações de fundações privadas e corporativas, inclusive de fundações associadas a empresas no setor da saúde, para pesquisas sem relação com o trabalho apresentado. Os outros autores informaram não ter conflitos de interesses relevantes.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.
Referências: Ca Cancer J Clin. Publicado on-line em 10 de outubro de 2018.