Dra. Carolina Gonçalves - Saúde Digestiva e Cirurgia

  (41) 3029-6868   Padre Anchieta, 2050 – Ed. Helbor Offices – cj 1512

HomeBlogSem categoriaAdolescentes com obesidade grave: incentivar ou adiar a cirurgia bariátrica?

Adolescentes com obesidade grave: incentivar ou adiar a cirurgia bariátrica?

Adultos e adolescentes do estudo Teen-Longitudinal Assessment of Bariatric Surgery (Teen LABS) versus em adultos do estudo LABS.

“Nós documentamos uma perda ponderal similar e duradoura derivação gástrica em Y de Roux em adultos e adolescentes, mas foram observadas diferenças importantes entre essas coortes quanto aos resultados específicos de saúde”, resumiram os pesquisadores no artigo publicado em 16 de maio no periódico New England Journal of Medicine, para coincidir com a realização do fórum Combating Childhood Obesity, em Houston, Texas.

No estudo em pauta, e em outro estudo semelhante, feito por Olbers e colaboradores, “os dados do acompanhamento de cinco anos para derivação gástrica em Y de Roux em adolescentes com obesidade grave parecem promissores, mas o resultado ao longo da vida é desconhecido”, advertiu o Dr. Ted D.
Adams, Ph.D, mestre em saúde pública, da Intermountain Healthcare e da University of Utah, em Salt Lake City, em um editorial que acompanha o estudo.

Dr. Thomas e colaboradores concordam que “acompanhamento em longo prazo e novas pesquisas serão importantes para o refinamento dos riscos e benefícios da cirurgia bariátrica nos adolescentes”.

Enquanto isso, o Dr. Ted advertiu que, “a decisão de indicar a cirurgia bariátrica para adolescentes com obesidade grave ou adiar a cirurgia até a vida adulta precisa ser feita após ponderação cuidadosa das vantagens e desvantagens relacionadas”.

Os adolescentes podem não estar aptos a tomar uma decisão esclarecida sobre a cirurgia para perda ponderal, completou ele.

“Por ora”, conclui Dr. Ted, “enquanto esperamos identificar novas terapias, eficazes e menos invasivas, e adjuvantes efetivos para a cirurgia bariátrica em adolescentes, isto é, farmacoterapia e integração multidisciplinar ao estilo de vida, as decisões devem ser tomadas caso a caso”.

Adolescentes são mais propensos a ter remissão de diabetes e hipertensão.

A cirurgia bariátrica, que é eficaz no tratamento da obesidade grave em adultos, é mais realizada em pacientes na faixa dos 30 ou 40 anos, explicaram os autores.

Mas não está claro se os adolescentes com obesidade grave devem optar por fazer logo a cirurgia ou esperar ficarem mais velhos.

Esta questão está se tornando cada vez mais importante, escreveu o Dr. Ted, porque quase 6% dos adolescentes nos Estados Unidos têm obesidade grave – índice de massa corporal (IMC) ≥ 35 kg/m2.

Para investigar isso, os pesquisadores identificaram 161 adolescentes com obesidade grave no estudo Teen-LABS, que tinham entre 13 e 19 anos de idade (média de idade de 17 anos) quando fizeram a derivação gástrica em Y de Roux, em cinco centros, de 2006 a 2012.

Eles compararam essa coorte a 396 adultos com obesidade grave, do estudo LABS, que eram obesos aos 18 anos de idade e fizeram a derivação gástrica em Y de Roux quando tinham de 25 a 50 anos (média de idade de 38 anos) em 10 centros, de 2006 a 2009.

Os participantes de ambos os grupos tinham IMC médio de 50 kg/m²quando fizeram a cirurgia bariátrica, e 77% eram mulheres.

Cinco anos após a cirurgia, adultos e adolescentes tinham perdido uma quantidade semelhante do peso inicial, 26% e 29%, respectivamente (P = 0,08).

No entanto, houve queda mais acentuada da prevalência de diabetes entre os adolescentes do que entre os adultos.

Da mesma forma, a prevalência da hipertensão diminuiu mais entre os adolescentes do que entre os adultos.

Então, em comparação com os adultos, os adolescentes foram significativamente mais propensos a ter remissão do diabetes e hipertensão.

Overdose: raro, mas preocupante

A letalidade no acompanhamento de cinco anos foi semelhante nos dois grupos – três adolescentes (1,9%) e sete adultos (1,8%) morreram – mas as causas diferiram.

Os adolescentes morreram de overdose de substância (dois pacientes) e sepse após hipoglicemia (um paciente com diabetes tipo 1).

Os adultos morreram por causas relacionadas com a cirurgia (três pacientes), causa indeterminada (dois), suicídio (um) e câncer de cólon (um).

“Embora a letalidade no acompanhamento de cinco anos tenha sido semelhante nos dois grupos”, escreveu o Dr. Ted, “é preocupante que a causa da morte em dois dos três adolescentes tenha sido compatível com overdosede substância”.

Este é um achado “alarmante”, concordaram Dr. Thomas e colaboradores, “dada a tendência geral de aumento de mortes por overdose de substância nos Estados Unidos, e à luz do aumento do risco de transtornos devido ao abuso de bebidas alcoólicas e de substâncias relatados em adultos após a cirurgia bariátrica.”

“De fato”, continuaram eles, “apesar do pequeno número de pessoas até agora com história de overdose após a cirurgia de bypass gástrico, essas descobertas podem indicar a necessidade de esforços mais concentrados de pesquisa, instrução do paciente e orientação preliminar”.

Além disso, embora os níveis pré-operatórios de ferritina tenham sido normais em 98% dos adultos e adolescentes, cerca de dois anos após a cirurgia, significativamente mais adolescentes do que adultos apresentaram baixos níveis de ferritina.

Ainda, no acompanhamento de cinco anos, mais adolescentes do que adultos fizeram cirurgias intra-abdominais, predominantemente colecistectomia, e menos frequentemente cirurgia para tratar alguma obstrução intestinal, herniorrafia ou gastrostomia.

O estudo Teen-LABS, em andamento, começou recentemente a recrutar adolescentes submetidos a gastrectomia vertical.

O consórcio TeenLABS é apoiado pelo National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. Os autores informaram não ter conflitos de interesses.

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referência: N Engl J Med. Publicado on-line em 16 de maio de 2019.

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMe1905778
https://portugues.medscape.com/verartigo/6503589#vp_1