Dra. Carolina Gonçalves | Covid-19: As diferenças entre adultos e crianças
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Covid-19: As diferenças entre adultos e crianças

Os casos pediátricos de Covid-19 (sigla do inglês, Coronavirus Disease 2019) costumam ser leves, mas a coinfecção parece ser mais comum em crianças do que em adultos, de acordo com uma análise das características clínicas, laboratoriais e das tomografias computadorizadas (TC) de tórax de pacientes internados em Wuhan, na China.

Os achados indicam a necessidade de realizar uma TC de tórax precoce, assim como a identificação do patógeno, em crianças com suspeita de infecção por SARS-CoV-2 (sigla do inglês, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), segundo o artigo do Dr. Wei Xia, médico da Huazhong University of Science and Technology, na China, e colaboradores, publicado no periódico Pediatric Pulmonology .

Os sintomas mais comuns entre os 20 pacientes pediátricos internados por Covid-19 entre 23 de janeiro e 08 de fevereiro de 2020, com diagnóstico confirmado por meio do teste de ácido nucleico Covid-19 de um swab da faringe, foram febre e tosse, tendo ocorrido em 60% e 65% dos pacientes, respectivamente. Oito pacientes (40%) receberam diagnóstico de coinfecção, segundo os autores.

As manifestações clínicas foram semelhantes às observadas em adultos, mas os sintomas gerais foram relativamente leves e o prognóstico geral foi bom. É importante destacar que 7 dos 20 pacientes (35%) tinham alguma doença congênita ou adquirida antes do diagnóstico de Covid-19, o que sugere que crianças com comorbidades podem ser mais suscetíveis, escreveram Dr. Wei e colaboradores.

Os achados laboratoriais também foram dignos de nota, pois 80% das crianças apresentaram elevação da procalcitonina (PCT), algo que normalmente não é observado em adultos com Covid-19. A PCT é um marcador de infecção bacteriana e “esse achado pode ser uma indicação para a prescrição de tratamento antibacteriano de rotina em pacientes pediátricos”, escreveram os pesquisadores.

Quanto aos exames de imagem, os achados da TC de tórax em crianças foram semelhantes aos dos adultos.

“As manifestações típicas foram opacidades subpleurais em vidro fosco unilateral ou bilateral e consolidações com sinais de halo”, escreveram o Dr. Wei e colaboradores, acrescentando que as consolidações com sinal de halo estavam presentes em cerca de metade dos casos pediátricos, e devem ser consideradas como “sinais típicos em pacientes pediátricos”.

Os casos pediátricos foram “bastante raros” nos primeiros dias do surto de Covid-19 em Wuhan, onde foram relatados os primeiros casos de infecção.

“Como o grupo pediátrico geralmente é suscetível à infecção do trato respiratório superior, devido ao sistema imunológico ainda em desenvolvimento, a presença tardia de pacientes pediátricos é fora do esperado”, escreveram os pesquisadores, destacando que uma baixa taxa de detecção no teste de ácido nucleico Covid-19 do swab da faringe, de forma a distinguir entre uma infecção pelo vírus e a de outros patógenos do trato respiratório em pacientes pediátricos “ainda é um problema”.

Para identificar melhor as características clínicas e de imagem de crianças versus de adultos com Covid-19, Dr. Wei e colaboradores revisaram esses 20 casos pediátricos, incluindo 13 meninos e 7 meninas de menos de um mês de vida até 14 anos e 7 meses (mediana de dois anos, 1,5 meses). Treze pacientes sabidamente tiveram contato com algum membro da família diagnosticado com Covid-19, e todos foram tratados em uma ala de isolamento. No total, 18 crianças foram curadas e tiveram alta após uma média de permanência de 13 dias, e 2 neonatos permaneceram em observação por causa de resultados positivos no swab, mas nenhum achado na TC. Os pesquisadores propuseram que os diferentes achados observados em neonatos talvez tenham sido causados pela influência do tipo de parto na amostragem ou pelas características específicas da TC em neonatos, acrescentando que são necessárias amostras maiores para esclarecimentos.

Com base nesses achados, “a TC da Covid-19 deve ser diferente de outras pneumonias virais, como pelo vírus Influenza , vírus parainfluenza, vírus sincicial respiratório e adenovírus”, concluíram. Também deve “ser diferente da pneumonia bacteriana, pneumonia por micoplasma e pneumonia por clamídia… a densidade de lesões de pneumonia causada por esses patógenos é relativamente maior”.

No entanto, o Dr. Wei e colaboradores escreveram que as alterações de pneumonia na TC de tórax para diferentes patógenos se sobrepõem, e a pneumonia por SARS-CoV-2 “pode estar encoberta por alterações devido a doenças mais graves e complexas, de modo que as análises epidemiológica e etiológica também são importantes”.

Os pesquisadores concluíram que a pneumonia por SARS-CoV-2 em crianças geralmente é leve, e que as opacidades subpleurais em vidro fosco e as consolidações com o halo circundante características na TC do tórax são um “meio efetivo para acompanhar e avaliar as alterações das lesões pulmonares”.

“No caso em que a taxa de positividade do teste de ácido nucleico do Covid-19 em amostras de swab da faringe não for alta, a detecção precoce de lesões por TC é suficiente para indicar o início precoce do tratamento em pacientes pediátricos. No entanto, o diagnóstico de pneumonia por SARS-CoV-2 apenas por TC não é suficiente, especialmente no caso de coinfecção com outros patógenos”, escreveram o Dr. Wei e colaboradores.

“Portanto, o rastreamento precoce por TC de tórax e o acompanhamento oportuno, combinados com a identificação de patógenos, é um protocolo clínico viável em crianças.”

Um estudo inicial

Em um outro estudo de análise retrospectiva, descrito em uma carta ao editor do periódico New England Journal of Medicine, o Dr. Weiyong Liu, Ph.D., do Tongji Hospital of Huazhong University of Science and Technology, e colaboradores descobriram que os patógenos detectados com mais frequência nas 366 crianças com menos de 16 anos internadas por quadro de infecção respiratória em Wuhan de 07 a 15 de janeiro de 2020, foram: Influenza A (6,3% dos casos) e Influenza B (5,5% dos casos). O SARS-CoV-2 foi detectado em 1,6% dos casos.

A mediana de idade dos pacientes com Covid-19 nessa série de casos foi de três anos (variação de um a sete anos) e, diferentemente dos achados de Dr. Wei et al., todas as crianças eram “completamente saudáveis” antes de adoecerem. As características comuns foram febre alta e tosse em todos os seis pacientes, e vômitos em quatro pacientes. Cinco tiveram pneumonia diagnosticada por radiografia, e as tomografias tinham padrões típicos de pneumonia viral.

Um paciente foi internado na UTI pediátrica. Todos os pacientes receberam antivirais, antibióticos e tratamento de suporte; todos se recuperaram após uma mediana de permanência de 7,5 dias (intervalo de cinco a 13 dias).

Diferentemente dos achados de Dr. Wei et al., Dr. Weiyong et al. mostraram que SARS-CoV-2 causou uma doença respiratória de moderada a grave em crianças, e que a contaminação de crianças estava ocorrendo desde o início da epidemia.

Alguma perspectiva

Em uma entrevista sobre os achados do estudo de Dr. Wei e colaboradores, o Dr. Stephen I. Pelton, médico, professor de pediatria e epidemiologia na Boston University e diretor de doenças infecciosas pediátricas no Boston Medical Center, ambas as instituições nos EUA, destacou a ausência de febre em 40% dos casos.

“Isso é importante, pois os critérios para a realização de testes do Departamento de Saúde Pública são febre alta, tosse e falta de ar”, afirmou.

                                                                               

                                                                                                       “Ausência de febre não descarta Covid-19.”

 

Outro ponto importante sobre os achados de Dr. Wei e colaboradores é que as taxas de ataque mais altas parecem ocorrer em crianças com menos de um ano de idade, ele disse, acrescentando que os achados de influenza A, influenza B ou vírus sincicial respiratório concomitantes reforça que “uma coinfecção pode ocorrer, e a presença de outro vírus nos testes de diagnóstico não significa que a Covid-19 não seja causal”.

Quanto à descoberta de níveis elevados de procalcitonina em 80% dos casos, e se isso é indicativo de Covid-19 ou de alguma coinfecção por bactérias, a resposta ainda não está clara, mas nenhuma criança do estudo teve comprovação de infecção bacteriana, disse ele, acrescentando que “esse marcador precisará ser interpretado com cautela na Covid-19”.

Dr. Wei Xia e colaboradores informaram não ter conflitos de interesses relevantes. Dr. Weiyong Liu e colaboradores também informaram não ter conflitos de interesses relevantes. O estudo de Dr. Weiyong et al. foi financiado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China, National Mega Project on Major Infectious Disease Prevention e Programa Nacional de Pesquisas Cruciais e Desenvolvimento da China.

Referência: https://portugues.medscape.com/verartigo/6504593#vp_2

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