Dra. Carolina Gonçalves | Inatividade aumenta risco de morte por câncer e mesmo exercício leve pode ajudar
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Inatividade aumenta risco de morte por câncer e mesmo exercício leve pode ajudar

O sedentarismo foi associado a um risco muito maior de morte por câncer, mas mesmo exercícios muito leves, como uma curta caminhada diária, podem ajudar, afirmam pesquisadores que publicaram dados de uma coorte de pessoas que usaram acelerômetros.

O estudo foi publicado em 18 de junho no periódico JAMA Oncology.

O achado dá esperanças para pessoas que não conseguem realizar atividades mais vigorosas, como correr ou andar de bicicleta, disse a primeira autora, Dra. Susan Gilchrist, médica e professora associada de prevenção clínica de câncer e cardiologia na University of Texas, nos Estados Unidos.

“Isso fornece às pessoas alguns objetivos realistas do que elas podem fazer”, disse a Dra. Susan.

Alguns estudos anteriores encontraram uma associação entre sedentarismo e morte por câncer, mas outros não mostraram essa associação. Todos confiaram nos relatos dos participantes quanto à prática de atividades, mas a maioria das pessoas subestima o tempo que passa sentado, comentou a médica. Os pesquisadores também tiveram problemas em separar os benefícios do exercício dos danos da imobilidade, disse a Dra. Susan.

Para superar essas limitações, sua equipe analisou dados de uma coorte de 8.002 pessoas que faziam parte do estudo Reasons for Geographic and Racial Differences in Stroke (REGARDS) e que usaram acelerômetros. O REGARDS é um estudo nacional dos fatores de risco de acidente vascular cerebral (AVC), que incluiu 30.239 adultos americanos negros e brancos com mais de 44 anos, que foram recrutados entre 2003 e 2007.

Um grupo de participantes usou acelerômetros nos quadris durante o período em que estava acordado por sete dias consecutivos. A média de idade desses participantes foi de 69,8 anos e 45,8% eram homens. Nenhum estava em tratamento oncológico no início do estudo.

Os pesquisadores do REGARDS coletaram dados do acelerômetro de 2009 a 2012. A média de acompanhamento foi de 5,3 anos, e durante esse período, 268 participantes morreram de câncer.

A equipe relatou que os participantes que morreram de câncer passaram mais minutos por dia sedentários, ficaram inativos por períodos mais prolongados e realizaram menos atividade física de baixa intensidade e atividade física de intensidade moderada a vigorosa.

Atividade física de baixa intensidade geralmente inclui atividades como trabalhos domésticos leves, compras, cozinhar e jardinagem leve; e atividade física de intensidade moderada a vigorosa abrange uma ampla variedade de atividades mais vigorosas, incluindo caminhada rápida, corrida, dança e mexer com a terra.

Os pesquisadores observaram que os participantes que passaram a maior parte do tempo inativos tiveram probabilidade 82% maior de morrer de câncer.

O grupo então ajustou os participantes para idade, raça, sexo, região de residência, nível educacional, estação do ano em que o acelerômetro foi usado, tabagismo, uso de álcool, índice de massa corporal, diabetes, hipertensão, dislipidemia, história de doença coronariana, história de acidente vascular cerebral e prática de atividade física de intensidade moderada a vigorosa. Mesmo após esses ajustes, os autores constataram que as pessoas mais sedentárias tinham probabilidade 52% maior de morrer de câncer.

Pessoas sedentárias por períodos mais longos tiveram probabilidade 61% maior de morrer de câncer, mas depois que os pesquisadores ajustaram para os outros fatores o aumento do risco deixou de ser estatisticamente significativo.

Para cada hora que os participantes passaram inativos o risco de morte por câncer aumentou 16%.

Por outro lado, a substituição de 30 minutos de tempo sedentário por 30 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia reduziu o risco de morte por câncer em 31%. Trinta minutos de atividade física de intensidade de baixa intensidade por dia reduziram o risco em 8%.

“O que me surpreendeu foi a atividade leve ter sido significativa”, disse a Dra. Susan. “Eu acreditava que seria necessário substituir o tempo sentado por atividade moderada a vigorosa.”

Esse tipo de associação seria difícil de descobrir com dados de relatos das próprias pessoas, disse ela. É uma boa notícia para pessoas com estilos de vida sedentários e para os médicos que tentam ajudá-las, acrescentou.

A Dra. Susan trabalha com pacientes que já acham difícil praticar exercício físico em condições normais, e que desistiram de tentar desde quando a pandemia de covid-19 tornou a prática de atividades em grupo e frequentar academias algo mais perigoso. “Vamos andar pela casa por 10 minutos”, ela diz para os pacientes. “Vamos andar até a caixa de correio e voltar.”

Ela reconheceu várias limitações do estudo. Entre as mais importantes foi o fato de os pacientes terem usado os acelerômetros no quadril, então os dispositivos não conseguiram identificar a diferença entre sentado e em pé, portanto, não detectaram algumas atividades, como lavar a louça.

Embora apenas um ensaio clínico possa provar causa e efeito, este estudo deu uma contribuição importante, porque forneceu medidas objetivas e durou 13 anos, disse o Dr. Nigel Brockton, vice-presidente de pesquisa do American Institute for Cancer Research, nos Estados Unidos.

“Isso ajuda na emissão da mensagem”, disse ele. “Muitas pessoas estão usando dispositivos portáteis para quantificar suas próprias atividades.”

É significativo que a associação entre atividade física e risco de morte por câncer neste estudo seja independente do índice de massa corporal, disse Dr. Nigel. Embora ainda não esteja claro como o exercício pode reduzir o câncer, as evidências até agora apontam para efeitos no metabolismo e na inflamação, disse ele.

Na próxima fase da pesquisa a Dra. Susan espera focar nos efeitos da atividade física em tipos específicos de câncer. Isso pode ajudar a responder algumas perguntas bioquímicas.

A Dra. Susan trabalhou como consultora para Outcomes4Me. O Dr. Nigel informou não ter relações financeiras relevantes.

Referência: https://portugues.medscape.com/verartigo/6505030#vp_2

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