Dra. Carolina Gonçalves | Nova equação supera índice de massa corporal para estimar a massa de gordura corporal
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Nova equação supera índice de massa corporal para estimar a massa de gordura corporal

A nova equação da massa relativa de gordura (MRG), baseada na relação entre a altura e a circunferência abdominal, prevê melhor o percentual de gordura corporal total em homens e mulheres do que o índice de massa corporal (IMC), indicam novas pesquisas. A equação da massa relativa de gordura também resultou em menos casos de erros de classificação nas categorias de obesidade em ambos sexos e em todos os grupos étnicos testados.

“O índice de massa corporal é amplamente utilizado para avaliar a gordura corporal, apesar de sua precisão limitada para estimar o percentual de gordura corporal (…) Assim, alternativas simples e de baixo custo ao IMC, com melhor acurácia diagnóstica para obesidade em ambos sexos seriam de considerável importância”, escrevem os Drs. Orison Woolcott e Richard Bergman, ambos do Sports Spectacular Diabetes and Obesity Wellness and Research Center no Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, Califórnia (EUA).

“Na população estudada, a massa relativa de gordura sugerida teve maior precisão do que o índice de massa corporal para estimar o percentual de gordura corporal entre mulheres e homens, e melhorou as distorções da classificação da obesidade definida pela gordura corporal entre adultos norte-americanos de origem mexicana, europeia ou africana”, informam os pesquisadores. O estudo foi publicado on-line em 20 de julho no periódico Scientific Reports.

No entanto, o especialista em obesidade Dr. Lee Kaplan, PhD, diretor do Obesity, Metabolism and Nutrition Institute no Massachusetts General Hospital, em Boston (EUA), disse ao que, embora a estimativa da massa relativa de gordura da gordura corporal possa ser útil como ferramenta de pesquisa, ele duvida que seja mais útil do que o índice de massa corporal no atendimento quotidiano.

Dr. Kaplan observa que, embora o IMC seja usado para identificar os pacientes obesos, os médicos devem considerar qual é o efeito do excesso de peso na saúde de um paciente – e a medida da massa relativa de gordura, como o índice de massa corporal, não o faz.
“Como médico, o que você realmente quer saber é: ‘Qual é o impacto clínico da obesidade?’ É com isso que você se importa”, ponderou o Dr. Kaplan. A questão então se torna: o aumento da massa relativa de gordura está associado a piores desfechos? Esta é a mesma pergunta que os médicos precisam responder ao usarem o IMC para orientar a definição da sua conduta.
“O fato de a massa relativa de gordura ser mais fidedigna na previsão do percentual de gordura corporal do que o IMC em homens e mulheres é interessante, mas não necessariamente tão importante em termos clínicos”, reiterou o Dr. Kaplan.

Enquetes NHANES

Para criar e validar a equação da massa relativa de gordura, os autores usaram dois conjuntos de dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES); o primeiro foi a enquete da NHANES, realizada entre 1999 e 2004 para a criação de modelos. O percentual de gordura corporal total foi medido por densitometria (absorciometria por raios-X de dupla energia – DXA, do inglês Dual-Energy X-Ray Absorptiometry) nos dois modelos. Os pesquisadores avaliaram mais de 350 medidas antropométricas até chegar a uma simples equação antropométrica linear mais precisa do que o IMC convencional para a estimativa do percentual de gordura corporal total em homens e mulheres de vários grupos étnicos.

“A equação altura/cintura, denominada de massa de gordura relativa, foi o modelo final escolhido por sua simplicidade (precisa apenas duas medidas antropométricas comuns), foi superior ao índice de massa corporal na previsão do percentual de gordura corporal entre os homens, teve capacidade de previsão semelhante em relação ao IMC entre as mulheres, e teve um desempenho geral melhor do que o índice de massa corporal entre mulheres e homens, independentemente”, escrevem os Drs. Woolcott e Bergman.

Validação do modelo

No segundo conjunto de dados, os de validação (enquete do National Health and Nutrition Examination Survey realizada entre 2005 e 2007), a massa relativa de gordura foi significativamente mais precisa que o índice de massa corporal na estimativa da massa de gordura corporal em mulheres em 91,5% vs. 21,6% para o IMC. Ela também foi mais exata do que o índice de massa corporal em 4,9% contra 5,8%, informam os autores do estudo. Da mesma forma, a massa relativa de gordura teve mais acurácia do que o IMC na estimativa do percentual de gordura corporal total em 88,9% vs. 81,9%, e estimando o índice de massa corporal, em 4,2% vs. 5,1%.

“Entre as mulheres, a massa relativa de gordura também teve mais acurácia nos grupos étnicos”, destacam os autores.

O mesmo se aplica aos homens norte-americanos de origem europeia ou africana, mas não aos norte-americanos de origem mexicana.

A massa relativa de gordura também teve melhor desempenho do que o índice de massa corporal em diferentes faixas etárias e quintis de gordura corporal. Usando a definição de obesidade de um percentual de gordura corporal medido por densitometria ≥ 33,9% para as mulheres e ≥ 22,8% para os homens, os pesquisadores também descobriram que as estimativas de gordura corporal total usando a nova equação levaram a menos casos de falsos-negativos, de 5,0% entre as mulheres comparado a 72,0%, pela medida do IMC. Isso foi novamente verdadeiro para os homens, embora a diferença tenha sido muito menos drástica, para os quais o uso da massa relativa de gordura resultou em um índice de falso-negativo de 3,8% em comparação com 4,1% para o índice de massa corporal.

Curiosamente, a massa relativa de gordura levou a menos falsos-positivos entre os homens, 32,3%, em comparação a 49,7% quando o índice de massa corporal foi utilizado, enquanto os falsos-positivos entre as mulheres foram muito mais altos, em 41%, quando aferidos pela massa relativa de gordura do que pelo índice de massa corporal, que não teve falsos-positivos.

O uso da nova equação também teve uma probabilidade significativamente menor do que o índice de massa corporal de classificar erroneamente homens e mulheres por categoria de obesidade, e isso foi observado em todos os grupos étnicos estudados, como indicam os pesquisadores.

“O principal objetivo do presente estudo foi identificar uma equação antropométrica simples, que pudesse ser usada para fins clínicos e epidemiológicos, como alternativa ao índice de massa corporal, para avaliar melhor a gordura corporal dos adultos”, explicam.

“No conjunto de dados de validação, o desempenho da massa relativa de gordura na estimativa do percentual de gordura corporal medido por densitometria foi globalmente mais coerente do que o do índice de massa corporal entre mulheres e homens, entre grupos étnicos, jovens, adultos de meia-idade e idosos, e entre quintis de percentual de gordura corporal, embora a acurácia da massa relativa de gordura tenha sido menor entre as pessoas com menos gordura corporal”.

“Os índices mais baixos de distorção da classificação da obesidade com a massa relativa de gordura em comparação aos do índice de massa corporal (…) fundamentam a utilidade clínica da massa relativa de gordura para identificar as pessoas com alto percentual de gordura corporal, doença que tem sido associada ao aumento da mortalidade”, concluem os autores.

Utilidade clínica?

Continuando a comentar sobre por que a maior precisão das estimativas da massa de gordura corporal pode não ter tanta utilidade clínica, o Dr. Kaplan observou que o que prevê desfechos adversos nos pacientes obesos não é o percentual de gordura corporal deles, mas a distribuição dessa gordura corporal.

“A gordura corporal central está associada a diabetes, esteatose hepática e todos os tipos de alterações metabólicas em uma extensão muito maior do que a gordura corporal periférica”, disse o comentarista.

“E você não vai definir a conduta clínica com base no fato de alguém ter desfechos adversos, como diabetes ou apneia do sono, de acordo com o percentual de gordura corporal”, observou o Dr. Kaplan.

A outra dificuldade importante para a incorporação dessa equação da massa relativa de gordura na prática clínica é a necessidade de uma medida muito precisa da circunferência abdominal do paciente.

“A circunferência abdominal tem uma precisão razoável quando feita nos ensaios clínicos, mas no dia a dia do consultório, onde as pessoas não passaram horas sendo treinadas para fazer isso, você pode ter grandes diferenças na maneira como mede a circunferência abdominal, dependendo de como e onde você mede”, observou o Dr. Kaplan.

“Por isso, prefiro usar marcadores de doença clinicamente relevantes para determinar o nível de tratamento necessário”, acrescentou.

“A massa relativa de gordura pode revelar-se uma ótima ferramenta epidemiológica, mas não estou convencido de que vá ser uma ferramenta muito melhor do que o índice de massa corporal no consultório”, concluiu.

Os autores informaram não possuir conflitos de interesses relevantes. O Dr. Lee Kaplan já prestou consultoria científica para AMAG Pharmaceuticals, Gelesis, GI Dynamics, Johnson & Johnson, Novartis, Novo Nordisk, Rhythm, Sanofi e Zafgen.

Nota ao leitor:

As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Referência: Scientific Reports. Publicado on-line em 20 de julho de 2018.
https://portugues.medscape.com/verartigo/6502746#vp_1

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